No anedotário nacional faltava mais esta. Segundo foi noticiado pelo Público, na edição de sábado passado, um professor de inglês foi objecto de acção disciplinar e suspenso das funções que exercia há 19 anos e pico na Direcção Regional de Educação do Norte. Pelo que consta terá dito uma piada (porventura em português do mais castiço) retirada do anedotário nacional do caso Sócrates/Independente. O incidente passou-se no seu gabinete e a mensagem tinha como receptor um colega de serviço.
As afirmações da directora regional Margarida Moreira são elucidativas quanto ao zelo com que alguns funcionários públicos passaram a desempenhar as suas funções: "insulto feito no interior da DREN, durante o horário de trabalho" (...) "extremamente grave e inaceitável" (...) "Os funcionários públicos, têm de estar acima de muitas coisas. O sr. primeiro-ministro é o primeiro-ministro de Portugal" (...) "Uma coisa é um comentário ou uma anedota outra coisa é um insulto" (...) "Não tomei a decisão de ânimo leve, foi ponderada" (...) "o inquérito será justo, não aceitará pressões de ninguém. Se o professor estiver inocente e tiver que ser ressarcido, será" (...) "Suspendo-o preventivamente, instauro-lhe processo disciplinar, participo ao Ministério Público".
Tudo leva a crer ter sido criado à escala nacional um serviço informal de bufaria. Proponho um nome pomposo e sonante, que é o que convém nas presentes circunstâncias: Serviço Secreto de Voluntários de Delação Espontânea (S.S.V.D.E.). Proponho igualmente que os elementos que mais se destacarem, ao longo do ano, venham a ser condecorados com a medalha de mérito e diploma, entregues em cerimónia festiva presidida pelo Presidente da República e pelo Primeiro-Ministro, devidamente acompanhados pelos seus acólitos, representantes das Forças Armadas e das Polícias, ao som da música tocada pela Banda da Guarda Nacional Republicana. Proponho um dia para o efeito: que tal o 25 de Abril? Sempre se revitalizariam as festividades do feriado. Ou então o 5 de Outubro. Proponho também que os ditos condecorados, por inestimáveis serviços prestados de interesse público, sejam designados como cidadãos exemplares e publicados os seus nomes no Diário da República, passando a encabeçar a lista dos possíveis recrutáveis para as carreiras do funcionalismo público. Proponho ainda, para os infractores que se não retratem da acção ignominiosa praticada, a seguinte pena: o encarceramento no simbólico Forte de Peniche e outros estabelecimentos afins, por será certo que para o efeito a capacidade deste não será suficiente.
Com estas palavras e no contexto da lei da rolha nos últimos tempos revisitada, ainda um dia destes me habilito a passar uns tempos à sombra não de uma azinheira mas do chilindró. Mas garanto que hei-de passar os meus dias a cantar a Grândola Vila Morena.
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