quarta-feira, maio 16, 2007

breve apontamento sobre a educação

O diagnóstico quanto ao estado da educação em Portugal, no pós 25 de Abril, está traçado, retraçado, definido, redefinido e repetido até à exaustão: sistema ineficaz e moribundo. Os indicadores, respigados dos mais competentes estudos académicos, justificados em estatísticas e amostragens que cobrem realidades nacionais e internacionais, não deixam margem para dúvidas ou manobras de escamoteamento. Os professores não ensinam ou fazem-no mal; os alunos não aprendem ou aprendem sem eficiência; os pais não têm tempo para educar ou educam sem convicções éticas. Bem sei que há excepções, mas elas não constam das estatísticas e estão ausentes dos indicadores de aprendizagem com que avaliamos a saúde da nossa paideia.
Com o 25 de Abril herdámos sistemas pedagógicos de vanguarda, importados da Europa progressista e moderna. Ele deu-nos a oportunidade de experimentar didácticas de vanguarda, fundamentadas em teorias confirmadas além fronteiras e rematadas numa nomenclatura que faz dos “ismos” a sua razão de ser e a sua marca de excelência. Os ideais de liberdade e igualdade foram-nos servidos em bandejas do metal mais nobre: o ouro da democracia.
Como povo de credos prontos e de aspirações longamente reprimidas, acreditámos que os ideais por si sós bastam para promover o bem-estar e a riqueza material e espiritual. Como estávamos enganados! No decurso dos últimos 30 anos acumulámos erros, dentre os quais talvez o maior tenha sido não termos apercebido que a massificação do ensino, essa exigência e essa consequência natural da democracia, devia andar a par com uma revolução plena e integrada das mentalidades. O urgente foi sendo adiado a troco de promessas de desafogo económico, que a integração na Comunidade Europeia e a adesão ao Euro vieram cimentar.
A desilusão face ao processo educativo é hoje um lugar comum, uma inquestionável certeza que nos deixa reféns sobretudo dos nossos sonhos mais do que legítimos. Sintoma evidente disso são os debates sobre debates, televisivos ou outros, a que assistimos nos anos mais recentes, com que nos alienamos e com que alinhamos no coro da desgraça.
Dos professores pode dizer-se que são fruto a cair de podre de um sistema minado por interesses corporativos, por indecisões políticas e por falta de coragem, desconfortavelmente instalados mas ainda assim instalados num funcionalismo público retrógrado e avesso a mudanças que tardam a concretizar-se. Dos alunos afirma-se que são um bando de adolescentes que se recusam a assumir a responsabilidade e o esforço de uma aprendizagem da cidadania, que vá para além da pele do hedonismo com que se vestem dia após dia, porque o que está a dar “é curtir bué” e sempre, ámen. Dos pais apetece dizer que o cuidado que as suas crianças merecem exige um outro olhar, mais crítico e vigilante, e não apenas um embarcar na cultura do sucesso fácil e de visibilidade imediata com que os media engravidam de ilusões os seus rebentos. Ao substituir o critério da excelência pelo da massificação, aquilo que se ganhou em número dos que têm acesso ao sistema ensino, perdeu-se em exigência de qualidade, o que teve como efeito um nivelamento por baixo nos padrões de ensinabilidade. Todos nós nos devemos responsabilizar pelo facto. A todos cabe a dolorosa pergunta: é isto que quero para o futuro do meu país?

3 comentários:

◈lunaluna◈ disse...

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popeline disse...

Coragem paa quem tem que ensinar razao e raciocínio dentro de um sistema irracional e incoerente. Por aqui também muita irracionalidade e incoerência e pretensoes de ensinamentos morais.

José Carrancudo disse...

As teorias de vanguarda de nada servem, como mostram os resultados.

O País está em crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola. Com efeito, 80% dos nossos alunos abandonam a Escola ou recebem notas negativas nos Exames Nacionais de Português e Matemática. Disto, os culpados são os educadores oficiosos que promoveram políticas educativas desastrosas, e não os alunos e professores. Os problemas da Educação não se prendem com os conteúdos programáticos ou com o desempenho dos professores, mas sim com as bases metódicas cientificamente inválidas.

Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua íntegra, e não apenas para assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomendamos vivamente a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino apenas reproduz a Ignorância, numa escala alargada.

Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.