domingo, maio 06, 2007

Eu, fumador, me confesso...

Eu, fumador, me confesso indignado com a lei antitabágica aprovada em Conselho de Ministros. A minha indignação resulta não de alguma desconsideração pelos direitos dos não fumadores, mas por considerar que ela faz eco de uma atitude fundamentalista que olha para o fumador como se de um potencial criminoso se tratasse, que importa antes de mais reprimir a todo o custo e denunciar quanto antes.
A lei impõe a absoluta proibição de fumar em tudo quanto for transporte público, estabelecimento de saúde ou de ensino e até nos serviços da administração pública (mesmo tratando-se de espaços ao ar livre). Mas proíbe mais: fumar em restaurantes, bares e discotecas com menos de cem metros quadrados. Pior ainda - obriga os proprietários destes a denunciar os ditos criminosos, sujeitando-se, se o não fizerem, à multa.
Sobretudo o que me repugna são os tiques fascistas ou pidescos que se promovem ao incentivar a delação pronta e imediata. Sou, do ponto de vista ético, um admirador de Aristóteles, e sei que são os actos que formam o carácter das pessoas. O fundamentalismo antitabágico cresce como o deserto de ideias neste Portugal de pequeninos salazares e de imitadores de socratezinhos crispados.
O bom senso impunha que percebêssemos duas coisas: primeira, que a democracia sólida e saudável só tem a ganhar com a não discriminação das minorias; segunda, que a mesma não se compadece com hipocrisias e cinismos. Ou não será o Estado o beneficiário de 1400 milhões de euros de impostos que arrecada anualmente com o imposto à venda de tabaco? Porque não canalizar esse montante para reforçar o orçamento do Serviço Nacional de Saúde? Porque razão as penalizações são maiores para os consumidores de tabaco do que para os consumidores de droga? Porque me querem cercear a liberdade de fumar um cigarro mesmo quando tenho a consciência que não estou a pôr em causa a liberdade de ninguém?
Termino com um texto de João Pereira Moutinho, copiado do Expresso:
"Em 1624, o Papa Urbano VIII resolveu proibir o tabaco por acreditar que o uso da coisa corrompia sexualmente os fiéis. A proibição seria removida no século seguinte por Bento XIII e, em 1779, o Vaticano acabaria mesmo por abrir a sua própria fábrica de cigarros. Exemplos deste tipo, que a revista ‘The Atlantic’ recorda, podem ser aplicados a diversos períodos da história onde a proibição do vício não durou muito. Foi assim no Império Otomano, onde as perseguições antitabágicas do sultão Murad IV, que proporcionavam 18 execuções diárias, não sobreviveram ao seu sucessor, curiosamente conhecido por Ibrahim, o Demente. Foi assim na Rússia seiscentista, onde as terapias siberianas que o czar Michael ministrava aos fumadores acabariam por ser enterradas no último quartel do século XVII. E foi assim com o inevitável Adolf Hitler, santo padroeiro das patrulhas antitabágicas modernas. Em 1933, quando Hitler chegou ao poder, o tabaco foi eleito inimigo mortal do Reich e uma ameaça directa à pureza da raça. De acordo com o delirante Adolf, o tabaco era o responsável por tudo: doença, impotência, comunismo (não necessariamente por esta ordem). As campanhas que se seguiram, de uma violência e desumanidade que só as actuais igualam, não sobreviveram ao descalabro do Reich."

Um comentário:

Anônimo disse...

Pensa que vão ter imenso convívio a porta dos cafés e restaurantes. Na Itália, que é uma balda para tanta coisa, a lei anti-tabaco é aplicada com mão de ferro. o que faz reunir em amena cavaqueira clientes, empregados e cozinheiros à porta dos restaurantes. O bom tempo do país também ajuda. Ch da Popepekine