“São os mercados, ó estúpido!” Esta foi a resposta que ouvi quando, displicentemente, perguntei aos associados da liga Anti-qualquer-coisa-que-nos-foda-o-juízo – da qual confesso fazer parte – quem eram os verdadeiros responsáveis pela situação a que chegáramos. A conversa girava, como não podia deixar de ser nos últimos repastos de quarta-feira à noite, em torno da política e de palavras como crise, austeridade, défice, dívida, rating, e por aí fora. A sua conjugação, nos tempos que correm, abre um horizonte ideológico de sentido que configura uma regra: a da necessidade de apertar o cinto. Necessidade não universal, entenda-se, pois existem excepções (pelo que se sabe, quadros da CGD, do BP e outros cuja identidade ainda se desconhece) que interessa abrigar da chuva dos mercados, não vá dar-se o caso de estes se constiparem e causarem um arrepio de febre nas agências internacionais de rating. “Quem anda à chuva, molha-se”, diz o ditado. E eu acrescento: a não ser que nos ofereçam a protecção de um guarda-chuva. O que não entendo, e talvez por isso mesmo mereça o epíteto de estúpido, é por que é que, ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista, se justificam a regra e a excepção. Se a necessidade das medidas de austeridade se deve às prescrições do mercado, por que razão pretende o governo atar as suas mãos invisíveis e impedir que elas deslizem para os bolsos de alguns privilegiados? Haja alguém que mo explique e me ajude a tornar-me mais esperto.
Este pretende ser um espaço de opinião e de comentário, espaço onde o pensamento se quer divergente e crítico, onde o dizer não se transforme num mero eco da opinião maioritária. Mas também um espaço de expressão de outras vozes que em mim não consinto em calar.
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sexta-feira, dezembro 03, 2010
sexta-feira, novembro 26, 2010
Miguel Sousa Tavares dixit, e eu até concordo
Nem sempre estou de acordo com o que escreve o jornalista Miguel Sousa Tavares. Por vezes, o meu desacordo é quase total. Contudo, revejo-me inteiramente nas suas palavras publicadas na mais recente edição do Expresso: “estou farto dos mercados!” Farto dessa conversa “da constante ameaça dos mercados.” Em primeiro lugar, porque se fala dos mercados com aquela reverência asinina com que outrora se genuflectia diante a imagem do divino. Bem sei que foi Adam Smith, o pai do liberalismo económico, a apelar para a “mão invisível de Deus” para designar um poder sem rosto de auto-regulação dos mercados. Só que a mão é hoje bem visível e tem um rosto – o rosto da ditadura em que se transformou este “capitalismo moralmente pervertido e socialmente insustentável.” Em segundo lugar, porque o discurso unanimista que por aí prolifera, ancorado num argumento da inevitabilidade de pouco sólidas bases, não é por ser repetido ad nauseam que se torna válido. Pelo contrário, a falácia é evidente: em política, as alternativas existem. É possível enveredar por outros caminhos. Não sendo assim, mais vale riscar dos dicionários a definição de política e de democracia. Revejo-me sobretudo no que escreve MST: “A falência óbvia do socialismo foi o caminho aberto para a libertinagem, sem regras, sem princípios morais e sem qualquer preocupação de que a economia sirva os povos, em lugar de os sugar.” Mas de tanto os sugar, um dia destes a coisa dá para o torto. E depois vai ser o bom e o bonito. Até lá, vamo-nos empenhando contrafeitos neste estranho exercício quotidiano de empobrecimento quase voluntário que nos querem impor como inevitável.
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