terça-feira, maio 01, 2007

1º de Maio

A história do 1º de Maio não se pode dissociar da história do sindicalismo, o qual nasceu, de forma espontânea, nos finais do século XVIII em Inglaterra, no seio dos operários de lã. Foi, porém, ao século XIX que a luta sindical se internacionalizou, dando voz às reivindicações dos trabalhadores, sobretudo sob a batuta do maestro Marx, o qual profetizava o fim capitalismo e o advento de uma era mais igualitária (a de uma sociedade sem classes). O lema marxista - trabalhadores de todo o mundo, uni-vos! - haveria de conduzir à crescente consciencialização, por parte do operariado, da sua força reivindicativa, concretizada em jornadas históricas de luta, que desembocaria no célebre 1º de Maio de 1886, onde 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago para exigir a redução da jornada de trabalho para oito horas. Três anos depois, em memória do ocorrido em Chicago, foi aprovada em Londres uma resolução que determinava a consagração do 1º de maio de cada ano à luta pela redução da jornada de trabalho para as oito horas diárias.
O século XX foi o século de conquistas sindicalistas à escala mundial, mediante as quais o movimento operário assistiu, com esperança sempre renovada, ao reconhecimento de direitos sociais e políticos num movimento histórico então considerado irreversível. Mas foi também o século em que todos assistimos ao enfraquecimento das estruturas sindicais e ao seu esvaziamento de sentido, ao mesmo tempo em que o capitalismo reemergia com uma pujança nunca antes vista. Neste século, num só movimento pendular, que oportunidades se ganharam e se perderam? Para responder a esta questão basta ler uma página escrita no final do século passado pelo escritor Fernando García de Cortázar:
"A queda dos regimes socialistas , com os seus sindicatos únicos, e a ampliação da democracia formal pareciam uma oportunidade para uma revitalização do movimento. Ao desaparecer ou desprestigiar-se a vertente política do movimento de esquerda, aos trabalhadores não lhes restava outra opção que o sindicalismo. A possibilidade destes organismos inflenciarem os seus filiados nos movimentos eleitorais proporcionava expectativas de certa importância política. Contudo, as formidáveis mudanças ocorridas na década de noventa encontraram a maioria dos sindicatos dividida, convertida em pesadas máquinas burocráticas ou com estruturas e funcionamentos demasiado rígidos para responder agilmente. O seu êxito parecia estar intimamente ligado à sobrevivência do próprio sistema e à manutenção de algumas chamadas conquistas sociais, mais do que à busca de uma alternativa não capitalista. A institucionalização e profissionalização fizeram o sindicalismo perder o pé na sua própria história, ao passo que entrava na do seu inimigo. Associado a isto, a falta de criatividade, o adelgaçamento da combatividade, a ritualização da democracia sindical malograram uma oportunidade sem precedentes desde os anos trinta."
O mundo hoje tornou-se um lugar mais inquietante e perigoso do que há vinte anos atrás, sob muitas perspectivas. Órfão de uma utopia que se não cumpriu, o trabalhador assalariado comemora mais um 1º de Maio e olha o horizonte com o semblante carregado de incertezas e sente-se desamparado. A não ser que amanhã ressurja do nevoeiro matinal não um D. Sebastião do desespero, mas do lento movimento da história se reerga uma esquerda transfigurada e pronta para novas lutas e reconquistas.

Nenhum comentário: