A ministra da educação continua igual a si própria, à semelhança do que sucede com o primeiro-ministro. Ser igual a si próprio é um traço de carácter e pode constituir uma virtude moral ou política, mas também um vício. Enquanto traço de carácter ser igual a si próprio tanto pode significar coerência entre princípios morais e a acção – consistência entre a teoria e a “praxis” – como a mais flagrante incoerência ética ou política, bastando para isso que, por detrás desta se oculte, ainda que mascarada por uma cosmética de ocasião, somente inflexibilidade e casmurrice. Para desmarcarar semelhantes traços só uma crítica da razão empedernida.
O primeiro-ministro é igual a si próprio, todos o reconhecemos. Muitos fazem dessa sua característica a idiossincrasia própria de um “leader”, tecendo-lhe encómios que confundem, no essencial, determinação e liderança com obstinação e despotismo. O que não se pode negar é que se trata da mesma pessoa que há uns tempos atrás foi apanhada a violar uma lei promulgada recentemente – a antitabágica, que tinha sido uma bandeira deste governo – e que agora, a propósito do eventual incumprimento do modelo de avaliação docente, venha reclamar que a lei é para cumprir.Quanto à ministra da educação, também ela igual a si própria, também ela obstinada e despótica, não se pode furtar de maneira alguma às mesmas críticas, salvaguardadas as devidas diferencias. Afirma ela que o modelo de avaliação de professores está a ser implementado em muitas escolas, o que pressupõe uma aceitação esmagadora do modelo de avaliação por parte dos professores. O que significa muitas, quando em terreiro estiveram 120 000 docentes a provar o contrário? Refere igualmente que este sistema de avaliação é um instrumento que promove o rigor na distinção entre os melhores e os piores, um instrumento rigoroso de promoção da meritocracia. Uma análise mesmo que superficial do documento não pode deixar de por a nu a arbitrariedade e a carga subjectiva que suportam, na sua implementação prática às diversas escolas e aos seus contextos educativos heterogéneos, as fichas de avaliação emanadas do ministério da educação. Rigor nunca foi sinónimo de arbitrariedade e subjectividade. Por último, no Estatuto da Carreira Docente, como sua bandeira, pontifica a seguinte frase: “a criação da categoria de professor titular tem como objectivo dotar as escolas de um corpo docente altamente qualificado, com mais experiência e formação…”. O que significa isto para qualquer pessoa dotada de bom senso? Precisamente que a alta qualificação dos professores titulares decorre dos longos anos desse “saber de experiências feito”, para citar o poeta maior das letras lusas. Mas não, estamos todos enganados. Para a tutela que implementou os mecanismos de selecção dos melhores, isto significou os últimos sete anos da carreira. A professora Elsa Cerqueira, que escreveu um texto onde evidencia estas incongruências, chama-lhes, com um rigor e exactidão de análise que caracteriza o bom profissional do ensino, “os paradoxos da política educativa”. Eu vou um pouco mais longe. Trata-se de um elementar traço de carácter que alia as características da incompetência intelectual e da cegueira ou surdez éticas. Isto num político paga-se caro, mais tarde ou mais cedo.
O primeiro-ministro é igual a si próprio, todos o reconhecemos. Muitos fazem dessa sua característica a idiossincrasia própria de um “leader”, tecendo-lhe encómios que confundem, no essencial, determinação e liderança com obstinação e despotismo. O que não se pode negar é que se trata da mesma pessoa que há uns tempos atrás foi apanhada a violar uma lei promulgada recentemente – a antitabágica, que tinha sido uma bandeira deste governo – e que agora, a propósito do eventual incumprimento do modelo de avaliação docente, venha reclamar que a lei é para cumprir.Quanto à ministra da educação, também ela igual a si própria, também ela obstinada e despótica, não se pode furtar de maneira alguma às mesmas críticas, salvaguardadas as devidas diferencias. Afirma ela que o modelo de avaliação de professores está a ser implementado em muitas escolas, o que pressupõe uma aceitação esmagadora do modelo de avaliação por parte dos professores. O que significa muitas, quando em terreiro estiveram 120 000 docentes a provar o contrário? Refere igualmente que este sistema de avaliação é um instrumento que promove o rigor na distinção entre os melhores e os piores, um instrumento rigoroso de promoção da meritocracia. Uma análise mesmo que superficial do documento não pode deixar de por a nu a arbitrariedade e a carga subjectiva que suportam, na sua implementação prática às diversas escolas e aos seus contextos educativos heterogéneos, as fichas de avaliação emanadas do ministério da educação. Rigor nunca foi sinónimo de arbitrariedade e subjectividade. Por último, no Estatuto da Carreira Docente, como sua bandeira, pontifica a seguinte frase: “a criação da categoria de professor titular tem como objectivo dotar as escolas de um corpo docente altamente qualificado, com mais experiência e formação…”. O que significa isto para qualquer pessoa dotada de bom senso? Precisamente que a alta qualificação dos professores titulares decorre dos longos anos desse “saber de experiências feito”, para citar o poeta maior das letras lusas. Mas não, estamos todos enganados. Para a tutela que implementou os mecanismos de selecção dos melhores, isto significou os últimos sete anos da carreira. A professora Elsa Cerqueira, que escreveu um texto onde evidencia estas incongruências, chama-lhes, com um rigor e exactidão de análise que caracteriza o bom profissional do ensino, “os paradoxos da política educativa”. Eu vou um pouco mais longe. Trata-se de um elementar traço de carácter que alia as características da incompetência intelectual e da cegueira ou surdez éticas. Isto num político paga-se caro, mais tarde ou mais cedo.
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