Não há omeletas sem ovos. É um dito popular que toda a gente conhece, mesmo os mais novos. O que os adolescentes de Fafe quiseram ontem demonstrar, no seu jeito despreocupado e quiçá inconsequente, foi tão somente isso mesmo. E ninguém os pode acusar de incoerência. A ministra deslocava-se à Escola Secundária de Fafe para uma cerimónia (mais uma) de entrega de diplomas dos cursos “Novas oportunidades”. Os alunos, não vai de modas, atiraram uns poucos de ovos contra os carros da comitiva ministerial, pretendendo, com o seu gesto, mostrar que os ovos são um ingrediente necessário para se fazer omeletas, mesmo em se tratando de culinária educativa. O que eu não percebo, verdadeiramente, são essas manifestações de repúdio e de moralismo bafiento perante os gestos de duas centenas de garotos e de garotas. Ao menos há que se lhes dar o benefício da dúvida. Porventura excederam-se, na antecipação do carnaval. Talvez andem confusos com a tamanha turbulência e insatisfação que se vive hoje em dia nas escolas portuguesas. O primeiro-ministro teve apenas um comentário, com o seu ar crispado e olhar a chispar ódio: “lamentável”. Pois bem, sê-lo-á. Admito. Mas mais lamentável tem sido o comportamento do governo perante as reivindicações de professores e alunos em coisas que afectam profundamente o quotidiano das escolas. Mais sensata se revelou a ministra, ao manter o silêncio. Ela percebeu certamente que as atitudes dos estudantes de Fafe, por excessivas que fossem, estão de acordo com o que é próprio da sua faixa etária. Não os podendo acusar de inconsistência – ela que tinha comentado, há dias, as suas manifestações como naturais e próprias da sua idade, desvalorizando-as – calou-se. E fez muito bem. Ainda que apenas um poucochinho, subiu uns pontos na minha consideração.
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