Exactamente oito meses depois de cem mil professores se terem manifestado, em Lisboa, contra as políticas educativas que o governo socialista tem tentado implementar, nomeadamente o modelo de avaliação docente, voltámos a assistir hoje a um protesto que mobilizou, para a capital, cerca de 80 por cento dos docentes deste país – à volta de cento e vinte mil, se fizermos fé na informação divulgada pelos sindicatos, pois a PSP não se quis (ou não pode) arriscar número, ao contrário do que sucedeu com a manifestação anterior, o que não pode deixar de causar estranheza.
Perante as imediatas reacções da ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que se desmultiplicou em directos televisivos, ainda muito antes de a manifestação ter chegado ao seu termo, nenhuma outra conclusão se pode extrair que não seja esta: trata-se de uma guerra sem fim à vista. Duas forças que se medem num braço-de-ferro que tem como oponentes professores e governo. De um lado, a força de uma classe profissional que, ainda há bem pouco tempo, nem suspeitava que a tinha. Do outro lado, uma força política que se obstina em prosseguir com uma reforma condenada, a dado momento, ao fracasso. Que momento foi este? Precisamente o momento em que o governo, enquistado no seu autismo dogmático, se recusou ponderar outras razões e sopesar outros argumentos que não fossem os seus, perdendo aí a oportunidade de congregar as únicas forças capazes de levar a efeito a pretendida reforma educativa. Não tenhamos ilusões: em democracia, nenhuma reforma séria se concretiza hostilizando aqueles que se encarregarão de a pôr em prática.
Os discursos produzidos pela ministra da educação, nos directos televisivos em que desdobrou as suas intervenções, constituem um oportuno caso de estudo e um interessante objecto de análise, precisamente porque se trata de um agente político num cenário de democrático. Sabendo-se que o vigor e a legitimidade das democracias modernas se atesta pela capacidade de diálogo, pela disponibilidade para gerar e gerir consensos, pelo respeito pelas vozes discordantes e pela capacidade de convencer racionalmente os grupos e as minorias renitentes ou conflituantes, Maria de Lurdes Rodrigues demonstrou, uma vez mais, não ter perfil democrático. Recusa-se a ver o óbvio e a entender o evidente. Acumula erros atrás de erros. O seu discurso deixou de persuadir mesmo as mentes mais destituídas de massa crítica, tal o modo como vai repetindo e repisando a mesma ladainha. Os seus argumentos perderam, por isso, solidez e consistência. Afirmar que esta manifestação constitui uma forma de intimidação e de chantagem contra os professores e as escolas que aceitam o seu modelo de avaliação só pode ser entendido como desvario e desespero. Das muitas falácias em que incorre o seu discurso, destaco uma, vulgarmente designada “falso dilema”, e que se traduz na ideia de que existem apenas duas alternativas possíveis. Dizer que só existem dois modelos de avaliação, o antigo, que nada e a ninguém avaliava, e o actual, que é fruto de dois anos de estudo e de implementação, constitui um elementar erro de raciocínio só aceitável em pessoas de menoridade intelectual parente da idiotia ou da má-fé.
Tudo isto serviu às mil maravilhas aos sindicatos e outras forças políticas da oposição. Aqueles voltaram a ter uma oportunidade para capitalizar a força do seu rebanho que, nos últimos tempos parecia tresmalhado. Num ápice, souberam pedir às suas hostes a força e a legitimidade de que há tanto tempo careciam. O trabalho que o governo teve, ao longo de toda a sua legislatura, para desacreditar os sindicatos, caiu por terra. Os anúncios de novas contestações e formas de luta, o espectro de conflitualidade que pode ter a expressão de greves gerais, é uma prova disso. Os partidos da oposição, da esquerda à direita, foram a reboque e aprontam-se para capitalizar simpatias que, nas próximas legislativas, podem valer votos, e a perda da maioria absoluta que poucos já parecem desejar.
O governo parece estar agora encostado entre a espada e a parede, num dilema que pode bem provocar uma diminuição da sua credibilidade política, da sua autoridade democrática, e ditar o seu fim. Parafraseando o Primeiro-Ministro: “é a festa da democracia”. E que festa, meu Deus!
Perante as imediatas reacções da ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que se desmultiplicou em directos televisivos, ainda muito antes de a manifestação ter chegado ao seu termo, nenhuma outra conclusão se pode extrair que não seja esta: trata-se de uma guerra sem fim à vista. Duas forças que se medem num braço-de-ferro que tem como oponentes professores e governo. De um lado, a força de uma classe profissional que, ainda há bem pouco tempo, nem suspeitava que a tinha. Do outro lado, uma força política que se obstina em prosseguir com uma reforma condenada, a dado momento, ao fracasso. Que momento foi este? Precisamente o momento em que o governo, enquistado no seu autismo dogmático, se recusou ponderar outras razões e sopesar outros argumentos que não fossem os seus, perdendo aí a oportunidade de congregar as únicas forças capazes de levar a efeito a pretendida reforma educativa. Não tenhamos ilusões: em democracia, nenhuma reforma séria se concretiza hostilizando aqueles que se encarregarão de a pôr em prática.
Os discursos produzidos pela ministra da educação, nos directos televisivos em que desdobrou as suas intervenções, constituem um oportuno caso de estudo e um interessante objecto de análise, precisamente porque se trata de um agente político num cenário de democrático. Sabendo-se que o vigor e a legitimidade das democracias modernas se atesta pela capacidade de diálogo, pela disponibilidade para gerar e gerir consensos, pelo respeito pelas vozes discordantes e pela capacidade de convencer racionalmente os grupos e as minorias renitentes ou conflituantes, Maria de Lurdes Rodrigues demonstrou, uma vez mais, não ter perfil democrático. Recusa-se a ver o óbvio e a entender o evidente. Acumula erros atrás de erros. O seu discurso deixou de persuadir mesmo as mentes mais destituídas de massa crítica, tal o modo como vai repetindo e repisando a mesma ladainha. Os seus argumentos perderam, por isso, solidez e consistência. Afirmar que esta manifestação constitui uma forma de intimidação e de chantagem contra os professores e as escolas que aceitam o seu modelo de avaliação só pode ser entendido como desvario e desespero. Das muitas falácias em que incorre o seu discurso, destaco uma, vulgarmente designada “falso dilema”, e que se traduz na ideia de que existem apenas duas alternativas possíveis. Dizer que só existem dois modelos de avaliação, o antigo, que nada e a ninguém avaliava, e o actual, que é fruto de dois anos de estudo e de implementação, constitui um elementar erro de raciocínio só aceitável em pessoas de menoridade intelectual parente da idiotia ou da má-fé.
Tudo isto serviu às mil maravilhas aos sindicatos e outras forças políticas da oposição. Aqueles voltaram a ter uma oportunidade para capitalizar a força do seu rebanho que, nos últimos tempos parecia tresmalhado. Num ápice, souberam pedir às suas hostes a força e a legitimidade de que há tanto tempo careciam. O trabalho que o governo teve, ao longo de toda a sua legislatura, para desacreditar os sindicatos, caiu por terra. Os anúncios de novas contestações e formas de luta, o espectro de conflitualidade que pode ter a expressão de greves gerais, é uma prova disso. Os partidos da oposição, da esquerda à direita, foram a reboque e aprontam-se para capitalizar simpatias que, nas próximas legislativas, podem valer votos, e a perda da maioria absoluta que poucos já parecem desejar.
O governo parece estar agora encostado entre a espada e a parede, num dilema que pode bem provocar uma diminuição da sua credibilidade política, da sua autoridade democrática, e ditar o seu fim. Parafraseando o Primeiro-Ministro: “é a festa da democracia”. E que festa, meu Deus!
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