terça-feira, novembro 04, 2008

o rosto da crise

A crise financeira está definitivamente instalada no seio da sociedade portuguesa. O crescimento económico, segundo a Comissão europeia, vai ser negativo nos 3º e 4º trimestres do ano (respectivamente – 0,3 e – 0,1 por cento), o que nos transportará para um universo de recessão técnica. A mesma Comissão prevê um crescimento anual de 0,5 e 0,1 por cento para 2008 e 2009, longe das previsões do governo: 0,8 e 0,6 por cento. De Bruxelas vêm-nos também más notícias no que concerne ao défice para os próximos dois anos (acima dos três por cento) e ao desemprego que sem dúvida aumentará. Provavelmente acontecerá o mesmo à inflação e a muitos outros indicadores de riqueza (melhor diria, de pobreza).
Ainda há uns meses atrás o governo negava aquilo que já toda a gente sabia: a crise está aí. No entanto, as evidências da crise impuseram-se, transformando-se num facto indesmentível. Os nossos governantes, então, não tiveram outro remédio se não aceitar o óbvio. Depressa, porém, assessorados por especialistas do marketing político, transformaram a evidência da crise numa oportunidade não apenas para se descartar uma vez mais de responsabilidades – a culpa é sempre dos outros, outrora o PSD, agora a política financeira internacional – mas também para construírem um orçamento de estado à medida dos eleitores de 2009. A novidade da crise reside no facto de ela se ter tornado endémica. Os portugueses em geral mostram-se agora mal dispostos, irritadiços, pouco tolerantes, com os nervos à flor da pele, em suma, insuportáveis. O outro tornou-se, para cada um de nós, o fantasma do inferno. À medida que o aperto do cinto se vai tornando mais forte, as suas carantonhas vão ganhando os contornos e a expressão da fatalidade de outros tempos. E que fatalidade! É o rosto da crise.

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