Depois da entrevista a Aldo Naouri publicada na Visão da semana passada, no Público de 25 de Março surgiu outra. No essencial, o conteúdo da última pouco ou nada difere da primeira. O autor de mais de uma dezena de livros sobre educação e com uma longa experiência de pediatria, apenas reafirma o que antes já dissera: que a palavra “não” deve fazer parte do léxico dos pais, que estes devem ser pródigos no exercício da autoridade, que é importante “reprimir as pulsões das crianças”, que seduzir não é sinónimo de educar, etc. Na segunda entrevista o pediatra é no entanto mais explícito e contundente. O que nem sempre agrada. Como se diz na gíria – “não se pode agradar a gregos e a troianos”. O seu pensamento torna-se mais explícito ao distinguir “explicar” de “justificar”, afirmando porém que a demarcação entre ambas é “ténue”, razão pela qual defende que a maioria das vezes não devem os pais nem sequer explicar as suas decisões, mesmo que erradas. Defende também, por consequência, que as relações pais-filhos devem permanecer sempre num registo de verticalidade e que o modelo democrático em educação produz tiranos e mentalidades fascistas, devendo por isso ser substituído por um modelo autoritário (não forçosamente ditatorial).
A contundência das suas palavras pode provocar em alguns de nós, pais e mães, um efeito de choque, o que conduz bastas vezes à rejeição pura e simples. Afirmar que não existem excelentes pais, que todos têm defeitos, pode parecer um truísmo. Mas na realidade é duro e exige poder de encaixe. Quantos de nós estamos preparados para questionarmos as nossas certezas ou convicções, os nossos preconceitos ilustrados? Quais ousarão ter a coragem de experimentar ser pais e não apenas comparsas do lúdico ou companheiros da aventura? É verdade que os filhos não trazem à nascença livros de instruções. Mas também não se podem confundir com objectos à venda no hipermercado da “sociedade da abundância” ou à mercê do consumo compulsivo, nem vêm acompanhados de recibo de devolução no caso de insatisfação do cliente.
Cada dia que passa são mais frequentes os testemunhos de pais e mães esgotados, desesperados, que já não acham solução para o problema em que se transformou o sonho de um dia ter filhos. No rosto adivinha-se a desilusão, a dor, o tormento, antecipando a confidência de quem já desistiu – “não sei o que mais posso fazer!” – ou a terrível interrogação – “onde errei eu?” O caminho para a resolução do problema que educar pode constituir, crónico ou agudo que seja, passa necessariamente pela disponibilidade para reflectir. Aldo Naouri deixa-nos algumas palavras que merecem reflexão: “Os bons pais são aqueles que permitem à criança poder desejar. (…) os maus são os que acham que a criança tem direito a tudo.”
A contundência das suas palavras pode provocar em alguns de nós, pais e mães, um efeito de choque, o que conduz bastas vezes à rejeição pura e simples. Afirmar que não existem excelentes pais, que todos têm defeitos, pode parecer um truísmo. Mas na realidade é duro e exige poder de encaixe. Quantos de nós estamos preparados para questionarmos as nossas certezas ou convicções, os nossos preconceitos ilustrados? Quais ousarão ter a coragem de experimentar ser pais e não apenas comparsas do lúdico ou companheiros da aventura? É verdade que os filhos não trazem à nascença livros de instruções. Mas também não se podem confundir com objectos à venda no hipermercado da “sociedade da abundância” ou à mercê do consumo compulsivo, nem vêm acompanhados de recibo de devolução no caso de insatisfação do cliente.
Cada dia que passa são mais frequentes os testemunhos de pais e mães esgotados, desesperados, que já não acham solução para o problema em que se transformou o sonho de um dia ter filhos. No rosto adivinha-se a desilusão, a dor, o tormento, antecipando a confidência de quem já desistiu – “não sei o que mais posso fazer!” – ou a terrível interrogação – “onde errei eu?” O caminho para a resolução do problema que educar pode constituir, crónico ou agudo que seja, passa necessariamente pela disponibilidade para reflectir. Aldo Naouri deixa-nos algumas palavras que merecem reflexão: “Os bons pais são aqueles que permitem à criança poder desejar. (…) os maus são os que acham que a criança tem direito a tudo.”
2 comentários:
Ouvi a entrevista na TSF.
Concordo plenamente com a visão do Dr. Aldo.
Li e reli a entrevista do Dr. Naouri.Não podia estar mais de acordo com as suas palavras. Sou mãe de três filhos, 2 raparigas,de 21 e 19 anos e de um rapaz com 17 anos. Creei-os sozinha. Separei-me quando o mais novo tinha um ano. Sempre fui acusada, pelos meus amigos, de ser uma mãe ditadora, pois nunca lhes perguntava o que queriam comer se gostavam ou não! O lema era "se não gostam comem menos"!!! Tenho uns filhos que considero bem educados e bem formados.Não me arrependo de ter sido e continuar a ser uma mãe "ditadora", mas eu acho que é a única forma de lhes dar segurança é mostrar-lhes que a mãe não tem medos, que tenho sempre respostas para tudo, mesmo que não sejam do agrado deles. Quando eu digo não, não há volta a dar e não é teimosia!
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