Quando a esmola é grande, o pobre desconfia
“Estamos todos de parabéns.” Foi assim que a Ministra da Educação concluiu o seu comentário aos resultados que os alunos dos 4º e 6º anos obtiveram nas provas de aferição a Matemática e a Língua Portuguesa.
De um ano para o outro, os nossos alunos que frequentaram os dois ciclos de ensino, não só inverteram a tendência de regressão, verificada no ano anterior, como apresentaram níveis de sucesso verdadeiramente dignos de pequenos campeões em matéria de aprendizagem. Em qualquer canto do mundo, resultados positivos da ordem dos 90% (respectivamente 90,8 e 89,5 por cento, nos 1º e 2º ciclos) a Matemática, e da ordem dos 80% a 90% (respectivamente 81,8 e 93,4 por cento, nos 1º e 2º ciclos) a Língua Portuguesa, é de deixar qualquer mortal embasbacado perante tal manifestação de sapiência. Mas há mais: no que diz respeito à excelência ou quase – muito bom e bom – a Matemática regista 34,5% (4º ano) e 32,9% (6º ano), enquanto a Língua Portuguesa obtém 38.9% (4º ano) e 38,8% (6º ano). Convenhamos que é de ficar embevecido com tamanha aproximação à divindade. Não será de estranhar que, no intervalo de uma geração, vejamos os nossos problemas resolvidos em matéria de atraso económico estrutural e não só. Quem disser o contrário, está certamente de má fé, ou então faz parte da geração dos estúpidos que não consegue enxergar nem sequer o óbvio. E para os incrédulos, os que farejam embustes e passes de mágica em cada milagre, descancem as meninges e deixem-se de criticismos de meia-tijela. Pois foi a própria ministra, doutíssima em estatísticas e outras ciências de rigor, quem declarou, a propósito, “não há milagres”.
Todavia, o melhor é ouvir também a sabedoria do povo, o qual, lapidarmente, sentencia: “Quando a esmola é grande, o pobre desconfia.” E não é que desconfia mesmo? Caberá na cabeça de alguém esta reviravolta nos resultados escolares, assim do pé para a mão? Não terão razão os representantes maiores das Sociedades Portuguesa de Matemática e Associação de Professores de Português ao afirmar que as provas de aferição nada mais aferem que não seja o facilitismo e o trabalho para as estatísticas?
Segundo a ministra, estes resultados são a consequência das medidas tomadas pela tutela. “É possível melhorar resultados escolares com trabalho continuado e permanentemente orientados para objectivos claros. É isso que temos andado a fazer desde 2005.” Mas será possível que, em matéria educativa, os resultados aparecem assim de um ano para o outro, sem milagres? Não é unânime a opinião dos especialistas no assunto quando afirmam que em Educação as medidas e as reformas só têm consequências a mádio e a longo prazo? E não sabem disso os pais e os professores? Tanta falta de bom senso, digo-vos eu, é não só exasperante mas começa a cheirar mal. Para terminar – que já estou a ficar indisposto com tanta cretinice exibida por parte dos responsáveis máximos do ensino em Portugal – qual a sustentabilidade argumentativa do que disse a ministra em causa, em defesa da autenticidade dos resultados? Afirmou: “A prova de que não são fáceis é que há uma percentagem muito reduzida de alunos capazes de resolver o teste na sua totalidade”. Ó santa paciência! Mas que falácia mais descabida! Que prova é essa? Prova dos nove ou quê? Respondo-lhe já, mesmo sabendo que não me ouve ou lê. Basta para isso, fazer um teste com uma ou duas questões, de quotação reduzida, de grau de dificuldade acima da mediocridade. É fácil, Sra Ministra. Ou não foi assim que procederam os professores responsáveis pela elaboração da prova, segundo indicações oriundas da tutela?
“Estamos todos de parabéns.” Foi assim que a Ministra da Educação concluiu o seu comentário aos resultados que os alunos dos 4º e 6º anos obtiveram nas provas de aferição a Matemática e a Língua Portuguesa.
De um ano para o outro, os nossos alunos que frequentaram os dois ciclos de ensino, não só inverteram a tendência de regressão, verificada no ano anterior, como apresentaram níveis de sucesso verdadeiramente dignos de pequenos campeões em matéria de aprendizagem. Em qualquer canto do mundo, resultados positivos da ordem dos 90% (respectivamente 90,8 e 89,5 por cento, nos 1º e 2º ciclos) a Matemática, e da ordem dos 80% a 90% (respectivamente 81,8 e 93,4 por cento, nos 1º e 2º ciclos) a Língua Portuguesa, é de deixar qualquer mortal embasbacado perante tal manifestação de sapiência. Mas há mais: no que diz respeito à excelência ou quase – muito bom e bom – a Matemática regista 34,5% (4º ano) e 32,9% (6º ano), enquanto a Língua Portuguesa obtém 38.9% (4º ano) e 38,8% (6º ano). Convenhamos que é de ficar embevecido com tamanha aproximação à divindade. Não será de estranhar que, no intervalo de uma geração, vejamos os nossos problemas resolvidos em matéria de atraso económico estrutural e não só. Quem disser o contrário, está certamente de má fé, ou então faz parte da geração dos estúpidos que não consegue enxergar nem sequer o óbvio. E para os incrédulos, os que farejam embustes e passes de mágica em cada milagre, descancem as meninges e deixem-se de criticismos de meia-tijela. Pois foi a própria ministra, doutíssima em estatísticas e outras ciências de rigor, quem declarou, a propósito, “não há milagres”.
Todavia, o melhor é ouvir também a sabedoria do povo, o qual, lapidarmente, sentencia: “Quando a esmola é grande, o pobre desconfia.” E não é que desconfia mesmo? Caberá na cabeça de alguém esta reviravolta nos resultados escolares, assim do pé para a mão? Não terão razão os representantes maiores das Sociedades Portuguesa de Matemática e Associação de Professores de Português ao afirmar que as provas de aferição nada mais aferem que não seja o facilitismo e o trabalho para as estatísticas?
Segundo a ministra, estes resultados são a consequência das medidas tomadas pela tutela. “É possível melhorar resultados escolares com trabalho continuado e permanentemente orientados para objectivos claros. É isso que temos andado a fazer desde 2005.” Mas será possível que, em matéria educativa, os resultados aparecem assim de um ano para o outro, sem milagres? Não é unânime a opinião dos especialistas no assunto quando afirmam que em Educação as medidas e as reformas só têm consequências a mádio e a longo prazo? E não sabem disso os pais e os professores? Tanta falta de bom senso, digo-vos eu, é não só exasperante mas começa a cheirar mal. Para terminar – que já estou a ficar indisposto com tanta cretinice exibida por parte dos responsáveis máximos do ensino em Portugal – qual a sustentabilidade argumentativa do que disse a ministra em causa, em defesa da autenticidade dos resultados? Afirmou: “A prova de que não são fáceis é que há uma percentagem muito reduzida de alunos capazes de resolver o teste na sua totalidade”. Ó santa paciência! Mas que falácia mais descabida! Que prova é essa? Prova dos nove ou quê? Respondo-lhe já, mesmo sabendo que não me ouve ou lê. Basta para isso, fazer um teste com uma ou duas questões, de quotação reduzida, de grau de dificuldade acima da mediocridade. É fácil, Sra Ministra. Ou não foi assim que procederam os professores responsáveis pela elaboração da prova, segundo indicações oriundas da tutela?
Um comentário:
Citando o meu pai "fomos entregue aos bichos". O livro que te falei é "Comment le capitalisme nous infantilise" de Benjamim Barber da Fayard. Levo-to quando voltar a Portugal. É desigual mas tem passagens interessantes.
Postar um comentário