Em cumprimento do que prometi, volto ao assunto de que me ocupei há uns tempos atrás. Trata-se do ensaio que Hannah Arendt publicou no final do anos cinquenta do século passado – A crise na educação. Porquê “crise na educação” e não “crise da educação”? Aparentemente, a diferença é mínima e de somenos importância. As frases apenas se distinguem pelo diferente recurso às contracções das proposições com os artigos definidos “em+a” e “de+a”. O artigo é o mesmo e define aquilo que está em questão, o objecto ou o assunto – educação. O que difere é a proposição. Esta diferença é decisiva para a compreensão do sentido da crise, no modo como esta se relaciona com a educação. Falar de crise da educação não é o mesmo que falar de crise na educação. No primeiro caso, a relação de pertença da crise à educação é imediata e essencial, isto é, esta pertence àquela como seu momento originário de manifestação, sendo a sua causa primeira e motor principal do seu processo de desenvolvimento. Ora, não é assim que Hannah Arendt relaciona os dois conceitos. Para a filósofa, é na educação que a crise se manifesta por último. Ela é o “topos” onde a crise se vai inscrever, após um longo processo disseminação, primeiro pela política e posteriormente pela área pré-política da educação. A crise só se manifesta na educação num período particularmente crítico da modernidade (no pós guerra), depois de três séculos de erosão progressiva dos pilares em que o mundo tradicional assentava – tradição, religião e autoridade. A crise tem fundamentalmente um rosto, que é o da modernidade, a qual se iniciou no período pós-renascentista, no século XVII. Descartes, o arauto da dúvida metódica, o protagonista da crítica sistemática, vai-se constituir, ainda que involuntariamente, como o propulsor de um movimento corrosivo da permanência e continuidade do mundo tradicional, minando os seus alicerces.
A crise da educação é, acima de tudo, uma crise que se manifesta na educação, pois trata-se de uma consequência da crise geral no mundo moderno, cujas primeiras manifestações surgiram sob a forma da crise da autoridade e da crise da tradição.
É este o sentido das duas passagens que escolhi do texto de Hannah Arendt – A crise na educação –, o qual faz parte de uma colectânea de artigos publicados há dois anos pela Relógio d’Água, com o título Entre o Passado e o Futuro.
"A crise de autoridade na educação está intimamente ligada com a crise da tradição, isto é, com a crise da nossa atitude face a tudo o que é passado." (p. 203)
"No mundo moderno, o problema da educação resulta pois do facto de, pela sua própria natureza, a educação não poder fazer economia nem da autoridade nem da tradição, sendo que, no entanto, essa mesma educação se deve efectuar num mundo que deixou de ser estruturado pela autoridade e unido pela tradição." (p. 205)
A crise da educação é, acima de tudo, uma crise que se manifesta na educação, pois trata-se de uma consequência da crise geral no mundo moderno, cujas primeiras manifestações surgiram sob a forma da crise da autoridade e da crise da tradição.
É este o sentido das duas passagens que escolhi do texto de Hannah Arendt – A crise na educação –, o qual faz parte de uma colectânea de artigos publicados há dois anos pela Relógio d’Água, com o título Entre o Passado e o Futuro.
"A crise de autoridade na educação está intimamente ligada com a crise da tradição, isto é, com a crise da nossa atitude face a tudo o que é passado." (p. 203)
"No mundo moderno, o problema da educação resulta pois do facto de, pela sua própria natureza, a educação não poder fazer economia nem da autoridade nem da tradição, sendo que, no entanto, essa mesma educação se deve efectuar num mundo que deixou de ser estruturado pela autoridade e unido pela tradição." (p. 205)
Nenhum comentário:
Postar um comentário