quarta-feira, julho 25, 2007

do iberismo e de saramago

Confesso que não li a entrevista que José Saramago deu ao Diário de Notícias, no passado dia 15. A minha cabeça está, de momento, ocupada com outras coisas, uma das quais, bem mais importante para mim, a preparação das férias que se avizinham. Contudo, acho o tema da entrevista aliciante. Como tal, pensei escrever algumas palavras sobre o assunto. Já percebi que a minha opinião vai em contra mão. Uma busca rápida na net com as palavras “José Saramago” e “iberismo” não dá margem para dúvidas. Vociferam-se impropérios ao Nobel, clama-se “aqui d’el rei”, grita-se “Olivença é nossa!”. No reino da blogosfera, afina-se a voz pelo coro dos anti-iberistas. Lembra-se o ditado “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento” para apregoar alto e bom som o nacionalismo luso.
Tudo isto por que o homem, uma vez mais, voltou, em estilo provocatório, a enunciar uma tese por si próprio há muito tempo defendida, pelo menos desde a Jangada de Pedra. No romance a metáfora é clara: homens e mulheres navegam pelo mar fora na mesma jangada. Mas quantos o leram? Quantos entenderam a mensagem? A diferença agora é que não se trata de um romance, de um exercício ficcional, nem do escritor. É o homem José Saramago, casado com uma espanhola, vivendo à 14 anos em Lanzarote, em terras do arqui-inimigo, que tem a ousadia já não de propor o iberismo como utopia, mas de prognosticar o fim do país naturalmente é o seu. Parece que afirma que Portugal acabará por se tornar uma província de Espanha, tomando esta o mítico nome Ibéria. Consta que defende ter a nação lusa tudo a ganhar com isso em termos de desenvolvimento, caso houvesse uma “integração territorial, administrativa e estrutural” com nuestros hermanos. Chega mesmo a ter o desplante de sugerir que os portugueses estão prontos a aceitar de coração aberto o enlace ibérico. Estarão deveras? Por que não fazer um referendo, já que estamos em maré deles? Eu cá alinho na ideia.
A ideia não é nova, vem do tempo dos afonsinos e alguns dos escritores saídos da fornada da geração de 70 argumentavam a favor dela. Os tempos hoje são outros, os da globalização e da Europa politicamente unida. No meu pobre entendimento, os tempos que correm, correm justamente de feição à utopia escrevinhada na Jangada de Pedra. Porquê? Por que a integração nos tornaria mais fortes no jogo da política internacional. Mais fortes não apenas em termos político-económicos, mas também no que concerne ao sócio-cultural. Creio que nos tornaríamos uma força peninsular de respeito no interior da Europa dos trinta ou trinta e cinco. Lutaríamos ombro a ombro com o Reino Unido, a Alemanha e a França. O que perderíamos? Vagos sentimentos sebastianistas e um feriado, o da Restauração. Não seríamos os mesmos. Obviamente que não. Mas nunca somos os mesmos. Seríamos diferentes? É claro. Seríamos melhores? Não tenho dúvidas.
É evidente que os preconceitos históricos nos impedem de pensar friamente no assunto. Talvez daqui a um século nos estejamos a rir de tais preconceitos serôdios, como nos rimos hoje dos nossos preconceitos racistas ou sexuais passados. Ou não é o caso?

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