quinta-feira, julho 12, 2007

domingo das urnas

No domingo, vamos a votos outra vez. Vamos? Não sei se irei. Pela primeira vez, desde o início dos anos 80, estou indeciso. Esclareço. A minha indecisão não se cola à escolha dos candidatos ou ao voto em branco, o que já me aconteceu (nunca a 4 dias das eleições, é certo). Não está associada a um hipotético fim-de-semana de corpo estirado sobre as areias morenas de qualquer praia algarvia. Não se prende com férias no estrangeiro ou no Portugal profundo. A minha indecisão – que será a de muitos lisboetas, creio – tem que ver com a natureza dos candidatos. Desacredito de todos. Do imponderável António Costa ao indescritível Carmona Rodrigues, passando pelo insubornável Sá Fernandes, etc. Se for às urnas (tétrico, bem sei), por imperativo ético ou cívico, talvez vote na imprevisível Helena Roseta. Sem nenhuma convicção, acrescento. Um único argumento dela quase me convence. Afirma: “em casas pobres as mulheres é que gerem o dinheiro. É um facto.” Mas como dizia o filósofo “não há factos, apenas interpretação de factos”. E a minha interpretação conduz-me a duas observações e uma pergunta. Primeiro, não gerem o dinheiro mas a penúria dele; segundo, é a experiência da pobreza que lhes ensina a correcta gestão da escassez; terceiro, que experiência tem a arquitecta da pobreza? Dúvidas e mais dúvidas. Por isso, talvez no domingo não vá a votos. Há sempre uma primeira vez. A acção política não é sinónima de ir às urnas. Um funeral sim. Sinceramente, não me apetece acompanhar esse morto à sua última morada.

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