sábado, janeiro 12, 2008

ética da irresponsabilidade

José Sócrates, em justificação do não cumprimento de uma promessa eleitoral sua – a do referendo ao Tratado Europeu – presenteia-nos a todos nós portugueses com duas razões que, espera ele, nos convençam em absoluto.
Em primeiro lugar, diz-nos que não prometeu um referendo ao Tratado de Lisboa mas sim um referendo ao Tratado Constitucional Europeu, sendo aquele substancialmente diferente deste. Isso à revelia do que afirmam quase todos os entendidos na matéria, os quais não se cansam de repetir que são ambos idênticos em 90 %, excluindo as referências ao hino, as adendas e anexos que o formalizam e a linguagem quase ininteligível em que está redigido. É caso para perguntar se a diferença substancial caberá inteira nos restantes 10%. O líder da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, a propósito lembrou: «Tanto é assim que, em Julho deste ano, um jornalista lhe perguntou se o Tratado Constitucional era igual ao Tratado de Lisboa, e a sua opinião era que era igual. E agora vem dizer que não podemos votar porque é diferente?»
Em segundo lugar, para compor o ramalhete da asneira, o Primeiro Ministro evoca a “ética da responsabilidade”. É caso uma vez mais para perguntar: Ética? Responsabilidade? Que ética? Em que princípios se fundamenta? Responsabilidade para com quem? Para com os portugueses? Não se trata antes de uma ética da irresponsabilidade?
É bom lembrar que a palavra responsabilidade tem como núcleo semântico a ideia da necessidade que o agente ético tem de responder pelos actos que faz e decisões que toma. A resposta está dada. A avaliação e o julgamento, em democracia, faz-se à boca das urnas. Caberá ao povo, aquando for chamado a exercer o seu direito e a sua responsabilidade política, julgar da justeza dessa tal ética da responsabilidade, camuflada pela cosmética da retórica e pela roupagem demagógica que a veste.

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