quarta-feira, janeiro 09, 2008

mendicâncias

Serão os portugueses europeus? Do ponto de vista territorial sim, apesar do nobel Saramago ter ficcionado uma jangada chamada Ibéria, à deriva pelo atlântico fora em busca da utopia. Cultural e espiritualmente, não. Os portugueses estão, neste particular, tão longe da Europa como Lisboa estava distante de Freixo-de-Espada-à-Cinta, na década de 40 do século passado. A distância cultural que nos separa é uma vertigem cujo efeito é uma miragem – a miragem de nós próprios. Apenas nominativamente nos dizemos europeus. Olhamo-nos ao espelho e vê-mo-nos como realmente somos – um povo de identidade perdida, a caminho de um destino que não sabemos assumir. É por essas e por outras que o Tratado de Lisboa pouco ou nenhum significado tem para as pessoas nascidas neste cantinho ocidental europeu. A Europa tem para nós apenas o significado da possibilidade do opróbio, o qual se traduz na esperança de podermos continuar a mendigar. Tristíssima expectativa a nossa! Encaramos a União Europeia com a postura do mendigo e pouco mais. Reduzimo-nos cada vez mais à condição de mendicantes, que dão graças pelas sua existência insignificante. E a responsabilidade de tudo isto cabe inteirinha aos políticos que continuam a achar natural este estado de espírito e, ainda que o não afirmem explicitamente, pensam com os seus botões, que não vale a pena dar ao povo, por via do referendo ao Tratado de Lisboa, a possibilidade de aprenderem a exercer o seu direito de cidadania europeia. E aprendendo, com esse acto, a seu europeus.

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