quarta-feira, junho 13, 2007

O governo começa a ceder. A frase encerra hoje uma opinião generalizada. Comentadores, jornalistas e fazedores de opinião, quase sem excepção, afinam a voz neste coro. Apontam como sinais da cedência, fundamentalmente, a morosidade das prometidas reformas da Administração Pública e a recente hesitação quanto à localização do futuro aeroporto. Argumentam que as razões dela se devem quer à proximidade da presidência portuguesa da União Europeia, quer ao facto de termos entrado na segunda metade deste ciclo legislativo, quer ainda ao fim do estado de graça governativo. Talvez tenham razão. Mas é bom não esquecer outras evidências. O caso da licenciatura de Sócrates - terá provocado mais mossa do que o previsto? -, os dislates verbais de alguns ministros, a teimosia e a inépcia de outros, e sobretudo o tom de arrogância e de autismo democrático com que se têm procurado impor medidas impopulares. Se lhes acrescentarmos o progressivo e alargado empobrecimento do cidadão comum e a sensação de injustiça social que se adensa como nevoeiro em manhã fria e húmida, temos certamente o cenário de um desconforto que invade hoje por hoje a maioria dos portugueses.
Tenho para mim que o governo começou a ceder por dentro, não nas últimas semanas, mas a partir do momento em que começou a somar derrotas eleitorais, em que o Primeiro Ministro teimou em manter no executivo ministros sem a mínima capacidade. Quando se fechou em si próprio e não teve a sensibilidade necessária nem para dialogar com os seus parceiros negociais nem para tomar o pulso ao povo a tempo e horas (dialogar e mostrar compreensão nem sempre é sinónimo de cedência).
A força que o governo exibiu teve sempre apenas uma direcção: as populações mais pobres ou com menos poder reivindicativo: fechou maternidades e escolas no interior, aniquilou a moral de uma classe fraca e desprotegida - os professores. Nunca se mostrou capaz de confrontar os poderosos e aqueles que melhor instalados estão na vida: a banca, os grandes empresários, os juízes, etc. Ora, os mitos - como o do Robin dos Bosques - são eternos, justamente porque simbolizam a luta contra os poderosos e o legítimo anseio de justiça. O governo não soube, não quis ou não pode protagonizar essa luta e esse anseio. Pelo contrário, adoptou políticas que renegam uma esquerda que se pretendia moderna. Falhou o alvo, na sua míopia governativa. Mesmo ganhando as próximas eleições para a Câmara de Lisboa, a vitória, por escassa, soará a mais uma derrota. Assim, terá o que merece: o descrédito e a desconfiança. Pior que isso - o autodescrédito e a autodesconfiança começam a minar o espírito de um governo que se apelidou de reformista. O melhor é reformar-se. Ou então reformar a sua visão política e mudar de política, que é como quem diz mudar de vida.

Um comentário:

popeline disse...

Nao é para já, mas vai em passo de jogging