O ano de 2008 já lá vai. Pertence em definitivo à história, ainda que recente. Dos acontecimentos que mais marcaram o ano passado, os de maior impacto, infelizmente, não são de bom augúrio para o presente ano, deixando a pairar sobre a cabeça dos portugueses o espectro de um novo ano dramático – um “annus horribilis”. Densas nuvens negras acastelam-se agora no horizonte imediato, como prenúncio de tempestade iminente e inevitável. Os contornos da tempestade são previsíveis, mas não a sua intensidade e duração. Iremos assistir certamente ao crescimento do desemprego, à contracção do consumo, a uma soma de dificuldades económicas que afectarão a vida quer de empresas quer de indivíduos. Aquilo que já há alguns meses alguns economistas e demais especialistas em finanças prognosticavam como certo – escrevendo a crónica de uma crise anunciada -, o governo teimava em calar. As palavras crise e recessão não constavam do léxico governativo. Portugal parecia imune à epidemia que se alastrava dos Estados Unidos à Europa. Entretanto, as evidências da crise internacional iam-se somando ao ritmo dos dias que se subtraíam no calendário de 2008. Com este avolumar de evidências, negá-las tornou-se um exercício não só impossível do ponto de vista argumentativo, mas sobretudo perigoso do ponto de vista da credibilidade política. Foram anunciadas medidas de apoio aos bancos que manifestaram dificuldades de liquidez financeira, em nome do interesse público. O dinheiro que o governo sempre afirmou escasso, em período de contenção orçamental e de consolidação do défice, passou, de um momento para o outro, a jorrar aos milhões. O ano de 2008 aproximava-se do fim, numa vertigem avassaladora. O cenário de uma recessão técnica parecia cada vez mais uma realidade indesmentível. O governo desmentia, recorrendo a uma retórica indecorosa. Empresas reclamavam ajuda do governo para obviar ao imperativo da sua própria governabilidade. A crónica da crise anunciada passava do romance à vida real. O primeiro-ministro, no seu discurso natalício, disse aos portugueses que os esperavam tempos difíceis. Nem metáfora do “cabo das tormentas” faltou. A navegação passou a fazer-se à vista. O ano velho deu lugar ao ano novo – mais uma dobragem. O presidente da República confirmou, no seu discurso de final de ano, a tempestade que se avizinha. Carregou com tintas negras o horizonte. Nenhuma bonança à vista. Apelou à coragem, à união de esforços, ao trabalho conjunto e persistente. E disse que era preciso falar verdade. Entrámos em 2009, o ano de todas as eleições, com esta mensagem – a verdade e a política têm de dar as mãos, formar se não um par harmonioso, imagem de enamoramento mútuo, pelo menos o compromisso de um casamento de conveniência. Só assim o peso de um ano grave se tornará mais ligeiro, passando mais depressa.
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