quarta-feira, janeiro 14, 2009

o povo é manso mas não parvo

Ao parar hoje o meu automóvel numa bomba de combustível da Cepsa, pasmei. Nem queria acreditar. O preço da gasolina tinha subido em relação aos valores que, há três dias atrás, eu próprio tinha verificado. Ainda pensei tratar-se de uma ilusão de óptica ou de um qualquer fenómeno de perturbação da retina. Mas rapidamente constatei que não, a realidade nua e crua estava ali mesmo, inalterável, deitando por terra o meu cepticismo momentâneo.
Há uns meses, quando o barril do crude iniciava a sua tendência de descida nos mercados internacionais e os cidadãos mostravam a sua estranheza pelo facto das gasolineiras não acompanharem a mesma tendência de baixa de preços, nessa ocasião, os argumentos apresentados, apesar de não convencerem de todo, faziam sentido, pelo menos em termos teóricos. Dizia-se que tal se explicava por uma razão simples e objectiva: o combustível comerciado nos dias correntes correspondia às reservas compradas dois meses antes, precisamente quando o crude atingia uns dos seus picos mais elevados, para além do euro se ter valorizado em comparação com o dólar.
Entretanto o preço do crude, nos mercados internacionais, foi baixando progressivamente. Desceu mesmo abaixo de todas as expectativas, contrariando as previsões dos economistas mais ousadamente optimistas. Novos protestos. Falou-se de cartelismo, de desbragada roubalheira, de especulação financeira, da prevalência dos interesses da alta finança face aos interesses do cidadão comum. O diabo a sete. Os mesmos argumentos foram apresentados. O povo, uma vez mais, desconfiou. Mas calou e engoliu o engulho. Talvez as razões macroeconómicas sejam coisa transcendente e, à semelhança do mistério da trindade divina, não caibam no entendimento das contas e do arrazoado comum.
No entanto, o impensável aconteceu. Uma semana depois do mesmo crude ter subido de preço, uma vez mais no mercado internacional, os combustíveis desatam a subir para o consumidor. E quais são as razões? A subida do preço do “brend” nos mercados internacionais e a desvalorização do euro face ao dólar. Esqueceram-se de um pormenor – o das reservas e da história daquilo que se vende hoje corresponder ao que se comprou, mais dia menos dia, há dois meses atrás. Mas então que merda é esta? Por mais voltas que dêem, por mais transcendentes que sejam os negócios e os assuntos da economia, uma coisa é certa – a razão continua a ser a mesma e não admite contradições. Estes tipos pensam que o povo, para além de manso, é parvo.
Um dias destes o povo vai-se cansar de ser sempre o bombo em que os altos interesses económicos batem para fazer despudoradamente a sua festa. E depois iremos ver a força da razão que já não suporta mais ser achincalhada.

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