Diz a canção que o Natal é quando um homem quiser. Pois sim, seja. No entanto, continua a ser celebrado em Dezembro, no dia 25. Nenhuma mudança se verificou no calendário. As mudanças ocorreram nos costumes e nos hábitos. E que mudanças! Em trinta anos, pouco mais ou menos, a celebração do Natal em Portugal transfigurou-se. Alguns traços, poucos, permanecem idênticos. A maioria deles, porém, alterou-se profundamente, obedecendo a determinismos económicos e sociais que as contingências da história da democracia mais não fizeram do que sancionar. O que ainda podemos identificar como fazendo parte da tradição natalícia reside no facto de continuar a ser uma festa de reunião familiar. A consoada (a etimologia é incerta) continua a congregar à mesma mesa o núcleo da família, mesmo quando esta vem sofrendo, nas últimas décadas, de uma desestruturação irreversível. O bacalhau, o peru, o cabrito ou o polvo pontificam ainda como os pratos consagrados para a ceia. O arroz-doce, a aletria, as rabanadas e as filhós acompanham-nos, sendo coroadas pelo bolo-rei agora higienicamente desprovido de fava e brinde. A distribuição dos presentes permanece como corolário para onde convergem atenções e interesses, sobretudo da pequenada.
Em quase tudo o que resta o Natal mudou, transformando-se numa festa de apoteose consumista. O capitalismo reinante impôs as suas leis de mercado e fez do excesso e da abundância o seu ritual de culto. O apelo ao consumo desenfreado tomou conta dos costumes e hábitos que, outrora, contidos pelo sentimento religioso eram sublimados pela aura da transcendência. O menino Jesus deu lugar ao pai natal, o presépio cedeu a sua importância, em termos representativos, à árvore repleta de luz e cor. Os embrulhos das prendas transbordaram do sapatinho e descansam debaixo da copa da árvore de natal, não sendo já revelado o seu mistério na manhã seguinte. Na paixão incontida da posse não tem lugar o mistério e a espera paciente da revelação. A paixão da satisfação imediata requer que o agora não tarde com as suas promessas de desvelação. Ao mesmo tempo que o sagrado se viu engolido pelo profano, o “ethos” natalício metamorfoseou-se e é agora outro. E nós com ele.
Em quase tudo o que resta o Natal mudou, transformando-se numa festa de apoteose consumista. O capitalismo reinante impôs as suas leis de mercado e fez do excesso e da abundância o seu ritual de culto. O apelo ao consumo desenfreado tomou conta dos costumes e hábitos que, outrora, contidos pelo sentimento religioso eram sublimados pela aura da transcendência. O menino Jesus deu lugar ao pai natal, o presépio cedeu a sua importância, em termos representativos, à árvore repleta de luz e cor. Os embrulhos das prendas transbordaram do sapatinho e descansam debaixo da copa da árvore de natal, não sendo já revelado o seu mistério na manhã seguinte. Na paixão incontida da posse não tem lugar o mistério e a espera paciente da revelação. A paixão da satisfação imediata requer que o agora não tarde com as suas promessas de desvelação. Ao mesmo tempo que o sagrado se viu engolido pelo profano, o “ethos” natalício metamorfoseou-se e é agora outro. E nós com ele.
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