A greve dos professores de ontem foi mais um acontecimento a marcar a agenda política do país. Pelos números de adesão (94 % e 61%, segundo números dos sindicatos e da tutela) transformou-se numa greve histórica, sobretudo se tivermos em consideração ter sido feita a meio da semana, ter mobilizado muitos professores para os seus locais de trabalho, e lhes ter saído cara esta “brincadeira”séria. Alguns argumentam que o ganho foi todo para os cofres do ministério das finanças. Feitas as contas, o governo terá encaixado qualquer coisa como cerca de 7 milhões de euros. Os mais cínicos acrescentam que dará uma preciosa ajuda para financiar os desgovernos da banca privada. De todo o modo, têm sido os professores a dar lições de democracia substantiva, pelo modo como lutam contra a ditadura de um governo que claramente já não representa uma maioria que formalmente ainda reclama. E a luta não passa apenas por exigir a suspensão deste modelo de avaliação que, por cada metamorfose kafkiana, vai exibindo a sua natureza inumana, passa por reclamar a revogação de um Estatuto da Carreira Docente indigno, substituindo-o por outro que respeite a especificidade e a importância de uma profissão que todos reconhecem como decisiva para a criação do futuro do país. Esta é sobretudo a luta por uma escola pública de qualidade, escola em que crianças e adolescentes, pobres e ricos, possam aprender a ser homens e mulheres livres e iguais, a escola que queremos para os nossos filhos e que certamente também eles quererão para os nossos netos. É por isso que esta luta é uma lição de democracia substantiva, essa democracia que não vive refém de interesses meramente economicistas e partidários, mas sabe olhar o horizonte para além do contorno da sua sombra. É uma luta contra um monstro que se olha a si próprio no espelho mágico da auto-ilusão. O ministério da educação (este) não é somente um monstro que “os seus próprios filhos devora sempre”, é cada vez mais um “cadáver adiado que procria”, para citar o grande Fernando Pessoa. Há que enterrá-lo o quanto antes, não vá a pestilência alastrar ainda mais.
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