Hoje aconteceu mais um episódio risível no Parlamento. Em votação estiveram os projectos de lei apresentados pelos Verdes e pelo Bloco de Esquerda sobre o casamento entre homossexuais. Ambos foram chumbados pelos votos contra da maioria dos deputados PS, PSD e pela totalidade dos votos dos deputados do CDS-PP. A votação não surpreende por diversas razões. Vale a pena avaliá-las.Das bancadas parlamentares do PSD e do CDS-PP não se esperava outra coisa, pois faz parte do código genético de ambos os partidos posições conservadoras e retrógradas em matérias que dizem respeito aos direitos e liberdades dos cidadãos, sobretudo quando estão implicados comportamentos que a moral tradicional apelida muitas vezes de bestial e contranatura. Da bancada do PS também já se esperava o resultado, tendo em conta a imposição da disciplina de voto apenas contrariada pelos deputados Pedro Nuno Santos (autorizado a quebrar a imposição) e Manuel Alegre. As previsíveis repercussões eleitoralistas estiveram certamente na origem da votação contra os projectos de lei por parte do PS. Será compreensível se levarmos linha de linha de conta a ainda expectável maioria absoluta socialista nas próximas legislativas. O que não se compreende são as declarações de voto a favor que alguns deputados do PS apresentaram em seu nome, assim como a mesma declaração apresentada pela bancada socialista. As razões apresentadas são ridículas e oportunistas. Ao se afirmarem a favor dos direitos e liberdades dos homossexuais (do seu casamento) e contra a oportunidade da alteração legal, os deputados do PS demonstram que a única lógica que os rege é a lógica do oportunismo político, para além de manifestarem uma inconsistência ética que afronta qualquer sentido da democracia. Punir uma minoria desta maneira, cerceá-la de direitos de cidadania e de liberdade de acção, apresentando argumentos desta natureza, diz bem dos perigos a que uma democracia está exposta quando a vontade de poder se sobrepõe a princípios e regras do jogo democrático saudável. Mesmo minoritários, desejo que os cidadãos portugueses – homossexuais ou não – não se esqueçam, nas próximas legislativas, da afronta que o PS fez à democracia, uma vez mais. Talvez o PS risque de vez a palavra extemporâneo do seu dicionário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário