segunda-feira, maio 05, 2008

Segundo o Diário de Notícias, na sua edição online de hoje, Portugal está na cauda da Europa no que diz respeito à qualidade democrática. No “index da democracia quotidiana”, entre 25 países, a Demos – uma ONG – coloca-nos no 21º posto. A classificação, longe de ser honrosa, não espanta ninguém, estando mesmo ao nível dos resultados obtidos nos festivais eurovisão da canção. As conclusões do estudo são deveres interessantes. Revelam que, em termos formais (eleições regulares), estamos a meio da tabela – 14º lugar. O pior é quando se têm em conta critérios de carácter mais substantivo, como a participação cívica e a “relação familiar”. Aqui é que a porca torce o rabo. O estudo revela também que a qualidade democrática, no mapa geográfico da Europa, vai decrescendo de norte para sul. É com determinismos destes que nos safamos. Apesar de tudo, mesmo na cauda, ainda pertencemos ao universo europeu, apesar de Marrocos ser mesmo ali, ao virar da esquina.
Na semana passada, o Presidente da República criticou os jovens pelo sua falta de participação e interesse nos assuntos políticos. A responsabilidade por este afastamento – ou incultura política –, segundo Cavaco e Silva, é dos partidos políticos. Tudo isto foi dito na sessão solene comemorativa do 25 de Abril. Da ala esquerda à ala direita do espectro político, inúmeras personalidades fizeram notar – e bem – que o Presidente da República não está isento de responsabilidades. No entanto, o tom geral de desresponsabilização dos jovens, no que concerne à participação cívica e política, em nada contribui para alterar a qualidade democrática dos portugueses no futuro. O mais preocupante, do meu ponto de vista, é o clima de anestesia e de conformismo que as atitudes dos estudantes de hoje manifestam. O conformismo social é um sintoma de anemia democrática e uma posta aberta para um totalitarismo disfarçado de democracia meramente formal.Há uma semana, a ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que “os chumbos são um mecanismo retrógado e antigo” e que "os sistemas de ensino moderno tentaram substituir um sistema chamado ‘chumbo’ por outros instrumentos chamados ‘mais trabalho’”. E setenciou: "Facilitismo é chumbar. Rigor e exigência é fazer com que todos aprendam”. Uma pergunta: a que ensino moderno se refere? Não é certamente aos modelos da pedagogia moderna, alicerçados numa política eduquesa, que os “gurus” da 5 de Outubro se têm esforçado por impôr à prática educativa contemporânea, nas últimas décadas. Porque se assim é, então a senhora ministra continua a falar do que não entende, a desfiar um rosário de retórica sem consistência, e a tentar conjugar o inconjugável – o modelo finlandês com uma modelo de avaliação de professores chilena e com uma realidade social portuguesa. Ninguém nega que o modelo educativo finlandês seja óptimo. Sobretudo para os finlandeses. Como não se pode negar que o modelo de avaliação de professores, ao que parece importado do Chile, é uma farsa. Uma farsa que nenhum Gil Vicente quis assinar por baixo. E que a realidade societal do Portugal contemporâneo é uma manta de retalhos, retalhada em franjas de pobreza cada vez maiores e em pontos de cruz familiares descosidos. Há que entender duas coisas do discurso da ministra da educação: primeiro, trata-se de um recado inequívoco aos professores, que no próximo ano lectivo terão de avaliar os alunos em conjugação com a sua própria avaliação; segundo, o imperativo é economicista e a lógica á a da banal aritmética de merceeiro, conforme se pode despreender das palavras que se seguem: “Se o Estado gasta por ano três mil euros com um aluno, quando ele repete vai custar seis mil no ano seguinte”. Como dizia o outro – elementar meu caro...

Nenhum comentário: