quinta-feira, setembro 13, 2007

Portugal enlameado

O primeiro-ministro (tal como o presidente da república) recusou-se a receber, num dia, um homem que, do ponto de vista ético e religioso, e na actualidade, é porventura o exemplo mais representativo do que é um ser humano na autêntica acepção da palavra - o Dalai Lama. No outro dia, recebeu Bob Geldof, no contexto da próxima cimeira Europa-África. As motivações da controversa decisão são tão óbvias quanto sórdidas. E sobretudo repletas de significado. A política perdeu o norte da ética. Tal como referiu Paulo Borges, o representante máximo do budismo em Portugal, são os interesses da “real politik” a sobreporem-se aos interesses humanitários. E acrescentou um argumento político decisivo, que só passa despercebido porque vivemos subjugados pelo imperialismo de uma economia de mercado que faz do capitalismo liberal o “credo quia absurdum” do nosso contentamento mesquinho. Dizia o filósofo português ser injustificável trocar a nossa vocação ecuménica e universalista (a nossa riqueza espiritual) pela ilusão de uma pretensa riqueza material e económica. Deste ponto de vista, nunca deixaremos de ser relativamente pobres; do outro, podemos ser absolutamente ricos e marcar uma posição, à escala internacional, na defesa intransigente dos direitos humanos. A luta que travámos por Timor parece ter perdido o sentido. Por que são os timorenses mais humanos que os tibetanos? A escolha dos políticos mais importantes do Portugal actual só não nos envergonha talvez porque estejamos a perder capacidades intrinsecamente humanas, dentre as quais, se destaca a capacidade de lutarmos por ideais e não apenas por interesses.

Nenhum comentário: