quarta-feira, setembro 19, 2007

"eduquices" na TV

A ministra da educação esteve na última 2ª feira, no programa televisivo "prós e prós", perdão, "prós e contras".
Apresentado e moderado pela jornalista Fátima Campos Ferreira, o formato do programa pressupunha, quer-me parecer, pelo menos a julgar pelo nome, um espaço dedicado ao debate de ideias, à disputa de pontos de vista, à luta verbal, em suma, um espaço agonístico em que os protagonistas se esforçam por argumentar e contra-argumentar, conjecturando aqui, refutando acolá, sempre e sempre com a finalidade de levar a água das suas convicções ao moinho das ideias bem fundamentadas. No entanto, ao fim de cerca de três horas de programa, a sensação que se colhe é que do pressuposto do nome resulta um enorme engano. Os presumíveis oponentes da contenda ideológica afinam quase todos pelo mesmo diapasão, limitando-se esporadicamente a minúsculas escaramuças opinativas, a breves arremedos de crítica. Por que razão tal acontece? Por não termos gente capaz de afiar os gumes das suas lâminas nos coiros do adversário? Também será por isso. Mas não só. Um programa com este formato requeria mais coragem e decisão na escolha dos contendentes. Que diabo! não haverá por aí gente com arcaboiço intelectual suficiente para, em matéria de política educativa, esgrimir argumentos mais verrumantes, sólidos e demolidores? Onde estão os críticos do "eduquês"? Onde param os profissionais do ensino que, no terreno, não se cansam de destilar fel e censurar a actual política do seu ministério tão mal amado? Ou será que tudo não passa de um arranjinho para passar um bom par de horas a ganhar visibilidade televisiva?
O debate foi mau. A ministra mostrou a arrogância e a insensibilidade do costume. Teve até o desplante de sugerir que os professores não estavam zangados com ela (alguns sim, outros não, afirmou, não podemos generalizar). Os tiques de autoritarismo e de crispação, de rispidez e de agressividade, fazem dela não uma dama de ferro mas um sócrates (não o grego) de saias. Mas para pior, muito pior. A uma intervenção do sindicalista Mário Nogueira (sem dúvida, a mais inteligente), decidiu que não tinha comentários a fazer. Mas viu-se-lhe bem no "rictus" facial e no aço do olhar, que só não o fulminou ali mesmo porque ainda não se mata ninguém à distância de um relance de olhos. Nenhum sentido de humor, ausência total de ironia. Apenas crispação e rudeza disfarçada pela cosmética. Nos momentos em que se sentiu acossada no brio profissional, quase perdeu a compostura. Os cabelos desgrenharam e apareceu a imagem da Maga Patalógica que povoou os meus pesadelos de menino. A apresentadora, mesmo tendo tido oportunidades para tal, teve sempre o cuidado de não a beliscar demasiado. Dos membros do painel, uma pasmaceira a puxar ao bocejo e ao tédio. Não cheguei a ver o final. Entretanto, o sono embalou-me para uma outra realidade bem mais real que a televisiva.

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