segunda-feira, setembro 03, 2007

As férias

As férias constituem, para mim, nos últimos anos, uma tentativa nunca de todo conseguida de enganar o tempo, de me furtar ao seu irrevogável transcurso. Há muito tempo que não tenho por divisa o carpe diem. Não consigo enganar-me a mim próprio. O que faço é vestir outras roupagens e encarnar numa personagem com quem não simpatizo em demasia. Terei de aprender a arte da simpatia. Poderia chamar-lhe o infiel jardineiro, penso. A infidelidade é para comigo próprio, e não para com as flores, as árvores e as plantas que vou aprendendo a amar cada vez mais. Se não as trato melhor, é por ignorância, nunca por desleixo. Bem sei que a ignorância é como erva daninha. Praga danada que não se extirpa a não ser com paciência e trabalho. Falta-me porventura a primeira destas virtudes. A obra é longa e a vida breve. Mais uma vez a consciência trágica do tempo. É precisamente isso que busco nessa intimidade vegetal - a evasão da temporalidade. Outrora as férias não me soavam a esta busca insana do tempo perdido e eu não sabia ainda amar rosas ou o azevinheiro. Nas férias era apenas eu. Nem pensava sequer no infiel jardineiro que me veste as horas do estio maduro.

Nenhum comentário: