domingo, abril 22, 2007

o seu e o seu dono

Civilização e civismo são palavras aparentadas, derivam ambas do latim e apontam ambas para um núcleo significativo comum. Ouve-se por vezes dizer que o grau de civilização de um país se mede pelo modo como os seres humanos lidam dos seus animais de estimação. Em consequência, poder-se-ia acrescentar que tal grau se mede pelo pudor com que exibimos os excrementos dos mesmos. Ora, basta andar pelas ruas de Lisboa, qualquer que seja o bairro, para constatarmos que o cidadão olissiponenese que é dono do seu canídeo não sente pudor de qualquer espécie em exibir o produto da espontaneidade artística do animal a que chama seu. As obras são tantas e os estilos que as encarnam tão variados que Lisboa é uma séria candidata a ganhar o primeiro prémio da capital da estatuária canina. Exemplares há-os para todos os gostos. A paleta de cores é alargada. As formas são múltiplas e exuberantes e consubstanciam estilos variegados: do clássico ao abstracto, passando pelo rocócó ao vanguardista. Ele há de tudo. Mas o aspecto mais sublime desta arte é o odor. Acreditem, trata-se de um deleite indizível para o mais desprevenido dos estetas. E Lisboa não é certamente uma excepção no panorama artiístico do país. Depois não digam que os portugueses não têm alma artística. Incivilizados são aqueles que sentem pudor em expor deste modo a sua arte, pois, como se sabe, esta quere-se autónoma e absolutamente liberta das amarras da moral.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não esquecer as artes gráficas, noemadamente a serigrafia que tambem tem representação na calçada lisboeta! Aquele efeito que se obtem a partir do decalque da sola do sapatito após uma boa pisadela de m...
anabela

jcsmadureira disse...

boa observação