Gosto de romances históricos. Esse gosto talvez venha das resmas de livros aos quadradinhos que devorei na infância. Na época, as minhas preferências recaiam sobre dois heróis, Bufalo Bill e Robin Hood, cujas aventuras me deliciavam, alimentando deste modo os neurónios da minha imaginação. Ainda me lembro (estavamos no início da década de setenta) do preço: 2 escudos e 50 centavos por um conjunto de três.
Os romances históricos satisfazem a dupla necessidade de ilusão e de evasão que por vezes sinto: a primeira, a do romance propriamente dito, chamar-lhe-ei evasão espacial, por se tratar de um território desconhecido a que acedo e onde me instalo; a segunda, a histórica, a que chamarei evasão temporal, que me transporta para um tempo a que nunca acederei fisicamente.
Nos dias de hoje o romance histórico constrói-se com base em temas e figuras de referência, porventura devido ao grande êxito comercial do famigerado Código Da Vinchi: Jesus Cristo e os apóstolos (Maria Madalena incluída), os templários, Leonardo Da Vinchi, o santo Graal, os Manuscritos do Mar Morto, etc. Dir-se-ia que é um aspecto do Romantismo revisitado.
Uns dos últimos romances do género que li intitula-se A Comenda Secreta e foi escrito por dois autores portugueses: Maria João Pardal e Ezequiel Marinho. Trata-se de um romance pretencioso (com notas e bibliografia), apresenta lacunas básicas no enredo e, parece-me, tece um urdidura forçada a partir de factos impossíveis. Bem sei que um romance histórico não é nem pretende ser uma obra de ciência. Mas do verosímil ao inverosímil ou impossível vai uma distância intransponível.
Para contrapor ao mau gosto e ao trabalho descuidado dos dois romancistas uma obra ímpar: a biografia de D. Afonso Henriques escrita pelo professor José Mattoso. Imperdível.
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