terça-feira, abril 24, 2007

conversas de circunstância

Confesso que me deixa cada vez mais incomodado o poder que os media manifestam no nosso quotidiano, sobretudo quando não posso deixar de verificar o peso que têm mesmo na determinação dos assuntos de conversa de circunstância do cidadão comum. As conversas de circunstância, por mais anódinas e insignificantes que de facto sejam, versam (ou versavam) sobre a realidade vivida: o tempo que faz ou os achaques que cada um sente. Na forma, a expressão utilizada é um lugar comum, o tal dito de circunstância cunhado pelo uso corrente. O conteúdo, porém, está ancorado na vida subjectivamente experimentada, no sentir do momento. Os media, hoje em dia, tem o poder de determinar o conteúdo das conversas de circunstância. Para meter conversa, já não falamos do calor que torra ou dos bicos de papagaio que não nos dão descanço. Falamos sobretudo da contenda dirimida nos tribunais a propósito dos pais adoptivos ou biológicos da Esmeralda, trocamos frases jocosas ou maledicentes relativas ao percurso académico do Primeiro Ministro, lamentamos as carótidas do Eusébio hospitalizado, diabolizamos esse recente fenómeno do Entroncamento mais a sul que é a Ota. Tudo isto é objecto de um opinar incessante, de uma verborreia que escorre das nossas bocas como a baba dos beiços de um imbecil. E tudo isto é fruto da agenda que os media determinam como os assuntos a opinar. É esta instrumentalização da opinião comum na figura das conversas de circunstância que me incomoda. É que tudo isto é triste, não deixando de ser fado.

Um comentário:

Anônimo disse...

A têndencia geral é vivermos, não na realidade, mas sim numa meta realidade construída por outros, com fins inconfessáveis. Chico da Popeline