segunda-feira, março 22, 2010

sociedade do conhecimento e da informação - um lugar-comum

É corrente, hoje em dia, depararmo-nos com a designação “sociedade do conhecimento e da informação”. Tropeçamos nela com frequência, em todos os géneros de discurso, orais ou escritos. Tornou-se um lugar-comum, uma ideia feita, um preconceito. Como todos os conceitos - que vão perdendo o seu valor facial original à medida se transformam em moeda de uso (e abuso) corrente – também este se vulgarizou e passou a ocupar esse espaço não físico onde se alojam as ideias que nos habituámos a não questionar e onde se desenvolve uma imunidade ao problematizável. Poderíamos em rigor designá-lo como espaço mental do inquestionável. Existe uma semelhança entre o lugar-comum e o dogma religioso. A natureza do dogma religioso remete-nos para o domínio mental da crença incontestada, cuja intencionalidade pode ser descrita como um movimento de adesão total a uma ideia. Por norma, a crença incontestada traduz-se num enunciado que pressupomos ser incondicionalmente verdadeiro, seja porque não existem condições empíricas susceptíveis de o verificar, seja porque estamos perante um axioma que fundamenta a coerência interna do próprio sistema lógico ou teológico.
Ao ouvirmos ou lermos a expressão “sociedade do conhecimento e da informação”, aplicada à sociedade tecnologicamente desenvolvida em que nos vemos obrigados a viver, sob pena de cairmos numa espécie de marginalização sem retorno, não ousamos esboçar a mais pequena dúvida. Não ousamos formular, por exemplo, as seguintes questões: existiram sociedades que não fossem do conhecimento e da informação? Quais? É possível a existência de uma sociedade sem troca de informação e sem partilha de conhecimento? O que significa a designação “sociedade do conhecimento e da informação” por contraposição a outras sociedades que o não são? É uma questão de diferença de grau de conhecimento e de informação? De natureza dos mesmos?

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