domingo, março 21, 2010

dias

Começou ontem a primavera. O equinócio trouxe-nos, uma vez mais, noite e dia com a mesma duração. Hoje já o dia ganha avanço sobre a noite. É dia da árvore e dia da poesia. Hoje plantei uma árvore e li um poema. A árvore - uma tília - será multiplamente centanária, se a deixarem. O poema será certamente eterno. O poema intitula-se a "voz da tília" e a voz que primeiramente o cantou pertence a Florbela Espanca. e a voz canta assim:
A VOZ DA TÍLIA
Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça;
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera ...
E de manhã o Sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça...
Trago nas mãos as mãos da Primevera...
E é para mim que em noites de desgraça
Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine..."
E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
"Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás-de ser tília como eu sou..."

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre gostei deste poema. Faz uns quatro anos que ganhei de uma aluna no dia do meu aniversário.Mandei plástificar e está guardado no meu baú de recordações.