Uma semana depois de alguns membros do governo se terem passeado pelas escolas deste país moribundo a distribuir prémios de mérito para os melhores alunos de cada escola e a enaltecer as virtudes da sua política educativa – numa manifestação clara de marketing político –, Maria de Lurdes Rodrigues referiu-se hoje ao estudo feito por investigadores da Universidade de Aveiro sobre o fenómeno das explicações que as famílias portuguesas pagam, para assegurar o bom desempenho escolar dos seus filhos, como uma realidade própria de um país do terceiro mundo. Lamenta-se a ministra da educação que tudo isto acontece apesar de ter criado as aulas de substituição e as aulas de apoio assistido. E acrescenta que o país não se pode conformar com os factos e que se tem de exigir às escolas que cumpram o seu papel na íntegra, para assim acabarmos definitivamente com a situação de uma escola bifronte: uma escola pública de manhã e outra privada de tarde. Uma vez mais, a senhora ministra falou com a retórica do coração, o que a médio e longo prazo se traduzirá num erro político.
O estudo revela aspectos interessantes, que merecem mais do que o simples lamento ministerial e uma má disfarçada atribuição de responsabilidades às escolas e aos professores.
Em primeiro lugar, são as famílias com maior poder económico – classes média e alta – que recorrem às explicações, o que diz muito acerca do índice de democraticidade do nosso sistema de ensino, em que a igualdade de oportunidades figura apenas como letra morta da lei. Em segundo lugar, o fenómeno alterou-se em termos de mercado: se no passado era protagonizado pelo explicador doméstico, por norma um professor ou uma professora de carreira, que usava os seus tempos livres (muitos) para aumentar a renda mensal; agora predominam os centros de estudo, cuja natureza comercial é um inequívoco sinal dos tempos, estando de acordo com as leis do mercado neoliberal. Em terceiro lugar, são os professores recém-formados, que por norma ficaram de fora das vagas abertas em concurso, que recorrem aos centros para sobreviverem e potenciarem a sua carreira futura.O fenómeno das explicações, nos moldes actuais, está em expansão, garantem os investigadores, isto à revelia dos propósitos da ministra da educação que, há dois ou três anos, aumentava a carga horária dos professores para os impedir de acumular, entre outras coisas. Curiosamente, são os professores excedentários, em início de carreira, que alimentam o comércio das explicações, esses mesmos que se vêem empurrados para uma carreira paralela no privado, para uma prostituição forçada, ajudando desse modo a suprir as necessidades que o ensino público não é capaz de satisfazer. Enquanto isso, os professores, nas escolas, ocupam cada vez mais o seu tempo com questões e processos que nada têm que ver com o ensino e a pedagogia, carregando um fardo burocrático que os impede de se dedicarem de corpo e alma aos alunos. E assim anda o ensino cada vez mais prostituído.
O estudo revela aspectos interessantes, que merecem mais do que o simples lamento ministerial e uma má disfarçada atribuição de responsabilidades às escolas e aos professores.
Em primeiro lugar, são as famílias com maior poder económico – classes média e alta – que recorrem às explicações, o que diz muito acerca do índice de democraticidade do nosso sistema de ensino, em que a igualdade de oportunidades figura apenas como letra morta da lei. Em segundo lugar, o fenómeno alterou-se em termos de mercado: se no passado era protagonizado pelo explicador doméstico, por norma um professor ou uma professora de carreira, que usava os seus tempos livres (muitos) para aumentar a renda mensal; agora predominam os centros de estudo, cuja natureza comercial é um inequívoco sinal dos tempos, estando de acordo com as leis do mercado neoliberal. Em terceiro lugar, são os professores recém-formados, que por norma ficaram de fora das vagas abertas em concurso, que recorrem aos centros para sobreviverem e potenciarem a sua carreira futura.O fenómeno das explicações, nos moldes actuais, está em expansão, garantem os investigadores, isto à revelia dos propósitos da ministra da educação que, há dois ou três anos, aumentava a carga horária dos professores para os impedir de acumular, entre outras coisas. Curiosamente, são os professores excedentários, em início de carreira, que alimentam o comércio das explicações, esses mesmos que se vêem empurrados para uma carreira paralela no privado, para uma prostituição forçada, ajudando desse modo a suprir as necessidades que o ensino público não é capaz de satisfazer. Enquanto isso, os professores, nas escolas, ocupam cada vez mais o seu tempo com questões e processos que nada têm que ver com o ensino e a pedagogia, carregando um fardo burocrático que os impede de se dedicarem de corpo e alma aos alunos. E assim anda o ensino cada vez mais prostituído.
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