segunda-feira, novembro 29, 2010

Todo o discurso é ideológico

Todo o discurso é ideológico. Particularmente o político, no sentido em que declara opções e selecciona alternativas. E, em nome de uma específica concepção do bem comum, decide-se por uma configuração do mundo que considera preferível às demais. Fazendo-o, elege, entre outras coisas, um modelo de justiça, assim como o modo como se distribui a riqueza. Também o discurso da economia não é imune à ideologia. Por isso é plural e, como não podia deixar de ser, enuncia coisas diferentes, em função de diversos entendimentos acerca de como produzir e repartir a abundância ou a escassez dos bens disponíveis. Por conseguinte, não surpreende encontrar diferenças entre os discursos keynesiano e hayekiano, ou entre o daqueles que defendem as virtudes de uma economia regulada (pelo Estado) ou auto-regulada (pelo mercado). Isto para não falar de um discurso heterodoxo, que apela para a necessidade urgente, para garantir a sustentabilidade do planeta, de se optar pela via do decrescimento económico.
Apesar disso, assiste-se hoje à hegemonia de um discurso económico, que pretende constituir-se como uma dogmática a caucionar. Apresenta-se a si próprio com a roupagem asséptica da evidência matemática, moldada por argumentos de inevitabilidade que dispensam controvérsia. Sobretudo exibe-se como isenta de ideologia, quando na verdade esconde uma ideologia bem definida. Acabar com as políticas sociais ou reduzi-las ao insignificante e, de certo modo, com a necessidade de decisões democráticas, fazendo passar opinião pública (manipulada) por espaço público de discussão, está no ADN da ideologia económica hoje dominante. O problema é que também assistimos à submissão total do discurso político a este tipo de discurso, que ambiciona passar por único se diz portador da verdade indisputável.

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