sábado, janeiro 02, 2010

credo pagão

Passadas que foram as comemorações natalícias e os festejos de fim de ano, eis-nos de novo presos à realidade do quotidiano. Realidade que ninguém queria, aposto.
O Natal correu sob o signo do consumismo desenfreado, como tem sido timbre nas últimas décadas. Nem mesmo o estafadíssimo discurso da crise fez conter a febre despesista que se apoderou de todos nós, nas derradeiras semanas do ano de 2009. Ao primeiro sinal de uma retoma que se adivinha anémica, foi um ver se te avias. Tomados de uma volúpia insana, muitos portugueses sacaram dos cartões de crédito, de débito e das notas e vai de gastar que se faz tarde. Quem teve a desdita de percorrer as ruas e alamedas das grandes superfícies do consumo hodierno, nos dias que antecederam o vigésimo quarto de Dezembro, viu-se subitamente empurrado por uma onda de gente que desembocava nas catedrais de culto posmoderno.
O fim de ano não se ficou atrás. A maioria dos hotéis e dos restaurantes, dos bares e das discotecas, tiveram ocupação plena ou quase, como há muito tempo se não via. Nem o rigor excessivo de um inverno destemperado demoveu a nova crença dos fiéis do novo milénio.
Para tudo isso terá certamente contribuído a redução substantiva das despesas com os créditos à habitação e a inflação negativa, que aligeiraram o sufoco com que viveram muitas famílias nos idos de 2008.
Entretanto, tudo começa agora a regressar à normalidade, que é como quem diz, à costumeira mediocridade. Resta-nos pouco mais do que rezar a todos santinhos para que intercedam por nós junto do altar da divindade económica. Eu por mim já hoje comecei a entoar o credo pagão que me há-de redimir ao longo do ano: fui a uma loja e paguei com cartão de crédito. Abençoado seja.

Nenhum comentário: