quinta-feira, maio 28, 2009

desabafos de ocasião

Afirmou Descartes, o filósofo francês a quem a modernidade deve os seus fundamentos e referenciais lógicos, ser o bom senso a coisa mais bem distribuída do mundo. Estava enganado. Refuta-o um sem número de acontecimentos que marcavam a vida pública portuguesa nos últimos meses. O espaço público, por excelência um espaço propício à proliferação de hábitos democráticos e de um senso comum esclarecido, está cada vez mais ocupado pelo oportunismo de vistas curtas e pelo obscurantismo das ideias canhestras, que disfarçam mal os interesses privados e corporativos que nele se instalam.
Em tempos de vacas magras e de défice ideológico, aconselhava o bom senso que os gastos com as campanhas eleitorais fossem comedidos, que a ostentação se escondesse de vergonha debaixo do manto da frugalidade, que os discursos manhosos, o insulto ágil e a retórica da sedução dessem lugar à palavra substantiva e ao argumento esclarecedor. Para o bem de uma cidadania democrática autêntica. Mas nada disto se verifica. Pelo contrário, o que prova à saciedade que o bom senso não abunda. Este cantinho à beira-mar plantado é um terreno fértil para as ervas daninhas que, como infestantes que são, vão acabar por sufocar a seiva da cultura democrática que nos alimenta.

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