sábado, dezembro 01, 2007

Mais uma vez, ontem, o país viveu o cenário de uma greve geral da administração Pública. O cenário do Portugal dos pequeninos na sua versão corrente. Repetiu-se a guerra dos números. Do lado do Governo, contas feitas e refeitas, a fasquia chegou perto dos 22%. Do lado dos Sindicatos, contas arredondadas, a fasquia quase atingiu os 80%. Curiosamente, esta disparidade de contas é mais ou menos idêntica às que no passado recente foram apresentadas. De cada um dos lados da barricada cantou-se vitória. A opinião pública dividiu-se no juízo que fez da pertinência da greve. Nenhum argumento aduzido constitui novidade. Uns aproveitam para despejar a bílis em cima do funcionário público: o bode expiatório de todos os achaques económicos que não param de nos acometer, a causa do opróbrio e da pobreza que nos envergonha e que empurra uma fatia cada vez maior da população para a miséria ou para a indigência não assumida. Outros responsabilizam o Governo pelas maldades a aquele que tem sido sujeito e mostram a sua indignação pelo desprezo com que tem sido (mau)olhado.
E não saímos disto. Nenhuma das partes em conflito parece mostrar coragem suficiente para ousar causar danos reais no inimigo. Nesta guerra, como em todas, só a coragem permite vencer. Bastaria ao Governo exibi-la mediante a apresentação de medidas mais drásticas, que contribuíssem com a redução efectiva do contingente da Administração Pública. Não o fazem porque as eleições estão à porta. Aos funcionários públicos, bastaria mandar às malvas o ordenado parco mas certo, o futuro cinzento mas assegurado, e fazer uma greve indeterminada ou até ameaçarem demitir-se em bloco. Não ousam fazê-lo em nome de uma tibieza de vontade ou de uma capacidade de acomodação que só o niilismo dos tempos actuais justifica. E assim continua esta luta de forças (melhor diria, de fraquezas) que nem alento e imaginação têm para o óbvio: inventar o futuro. É que não há verdade mais evidente - o futuro só existe na condição de ser inventado e enfrentado com coragem. E adiá-lo é perdê-lo. Como diz o ditado: "ontem já era tarde".

Um comentário:

popeline disse...

Desta frente belga saiem batalhas perdidas com flamengos e valões às avessas. A diferença é de um barco que se afunda devagarinho e de outro que se parte aos pedaços. Haverá algum país que nos queira acolher como refugiados da incompetência?