O ataque,
enraizado no ódio, aos funcionários públicos (FP) não são, como se sabe, uma
característica exclusiva deste governo. No entanto, foi com o executivo de
Pedro Passos Coelho que esse ódio e esse ataque eclodiram com uma violência
injustificada num regime democrático, tendo sido assumidos como fazendo parte
de um programa ideológico que se alicerça numa só palavra: austeridade. Toda a
gente já percebeu que o programa de assistência financeira a que estamos
submetidos – curiosa assistência, porquanto se trata de assistir um doente
tornando-o quase moribundo – assente no dogma da inevitabilidade da
austeridade, não implica somente uma hipoteca da nossa soberania, implica
paralelamente uma narrativa moral de que só temos aquilo que merecemos e,
consequentemente, a inevitabilidade de um empobrecimento generalizado da
população, sobretudo das classes média e baixa da nossa sociedade. Sendo que os
funcionários públicos engrossam, na sua quase totalidade, as nossas classes média
e baixa, no final do estafado programa de assistência financeira a sigla FP
deve ser lida em dois sentidos em simultâneo, a saber: finalmente pobres e
finalmente poucos. Estaremos então perante a concretização do objectivo
ideológico deste governo: um estado mínimo e anémico, fortemente policiado, à
mercê da rapina e do açaime do capitalismo desenfreado que ditará as leis que
mais convêm à sua insaciável avidez. E assim regrediremos umas décadas até um
tempo de que só valeria a pena lembrar para que não nos esquecêssemos do longo
e árduo caminho para a democracia que fizemos como povo.