sexta-feira, dezembro 03, 2010

“São os mercados, ó estúpido!”

“São os mercados, ó estúpido!” Esta foi a resposta que ouvi quando, displicentemente, perguntei aos associados da liga Anti-qualquer-coisa-que-nos-foda-o-juízo – da qual confesso fazer parte – quem eram os verdadeiros responsáveis pela situação a que chegáramos. A conversa girava, como não podia deixar de ser nos últimos repastos de quarta-feira à noite, em torno da política e de palavras como crise, austeridade, défice, dívida, rating, e por aí fora. A sua conjugação, nos tempos que correm, abre um horizonte ideológico de sentido que configura uma regra: a da necessidade de apertar o cinto. Necessidade não universal, entenda-se, pois existem excepções (pelo que se sabe, quadros da CGD, do BP e outros cuja identidade ainda se desconhece) que interessa abrigar da chuva dos mercados, não vá dar-se o caso de estes se constiparem e causarem um arrepio de febre nas agências internacionais de rating. “Quem anda à chuva, molha-se”, diz o ditado. E eu acrescento: a não ser que nos ofereçam a protecção de um guarda-chuva. O que não entendo, e talvez por isso mesmo mereça o epíteto de estúpido, é por que é que, ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista, se justificam a regra e a excepção. Se a necessidade das medidas de austeridade se deve às prescrições do mercado, por que razão pretende o governo atar as suas mãos invisíveis e impedir que elas deslizem para os bolsos de alguns privilegiados? Haja alguém que mo explique e me ajude a tornar-me mais esperto.