segunda-feira, outubro 19, 2009

Platão dos pequeninos

A "alegoria da caverna" é porventura o texto mais lido de Platão, quiçá o mais comentado de toda a história da filosofia. Ao contrário do que muitos julgam, não se trata de uma obra do filósofo grego, mas de um excerto retirado da monumental "República", escrita na sua fase de maturidade. O texto constrói-se por antinomias - luz, sombras; realidade, aparência; saber, ignorância; libertação, escravidão; etc. - e constitui um dos pilares da metafísica. Por isso mesmo, é um texto de iniciação à filosofia por excelência. Aqui deixo um vídeo que serve de incentivo à sua leitura. Boa leitura.


domingo, outubro 18, 2009

a invisibilidade da dor

Suportar a dor é, hoje por hoje, quase um sacrilégio. Apenas em privado é permitido fazê-lo. Num tempo em que impera o hedonismo, em que o culto do prazer vê multiplicados os seus altares, a visibilidade da dor (de dentes, por exemplo) constitui pouco menos que uma heresia. Quem se atreve, nos dias que correm, a exibir publicamente o seu sofrimento (sobretudo físico)? Somente aqueles que já nada têm a perder, os que nenhuma consideração merecem. Asco apenas, é o sentimento que causam. Asco disfarçado de indiferença. Quando proliferam os arautos do deleite, somem-se os apregoadores da piedade. Por isso a velhice sofrida e a decrepitude magoada permanecem invisíveis.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Lyceu Camões - cem anos

Amanhã, dia 16 de Outubro, a Escola Secundária de Camões comemora 100 anos de existência. O Lyceu Camões, assim designado durante cerca de sete décadas, foi inaugurado ainda sob a égide de uma monarquia já moribunda. Pouco menos de um ano depois, proclamava-se a República. Sob o prisma das instituições, o Lyceu Camões e a República são portanto irmãos quase gémeos. Juntos aprenderam a caminhar e a pronunciar a palavra democracia. Juntos aprenderam a silenciá-la, ou a dizê-la em surdina ou à boca pequena, debaixo do manto cinzento do Estado Novo. Juntos a gritaram a viva voz e a plenos pulmões, em 1974, com a Revolução dos Cravos. Como se percebe, a história de ambas instituições confunde-se bastas vezes, conforme podemos constatar no site oficial da Escola Secundária de Camões. O melhor testemunho do que acabei de afirmar é o livro – a capa é magnífica – que amanhã será colocado à venda. Com o sugestivo título “100 anos - (C)em Testemunhos”, prefaciado pelo Professor Doutor António Nóvoa, o livro narra a história deste estabelecimento de ensino, pela voz dos seus autores e pelo testemunho de 100 personalidades que nele tiveram oportunidade de viver uma parte importante das suas vidas. Por isso mesmo, a história do edifício, da responsabilidade do arquitecto Ventura Terra, é também e sobretudo a história de quantos o habitaram e, felizmente, ainda habitam. A sessão solene, que contará com a presença do Presidente da República, o Dr. Cavaco Silva, constituirá um marco importante para a vida da Escola Secundária de Camões. Esperemos que contribua para a sua revitalização. E, já agora, para apaziguar o clima de tensão que nos últimos anos se tem vivido no seio das escolas, muito por força de um autoritarismo político levado aos extremos. Em tempos de crise da educação, agudizada pela crise política, este é certamente um momento crítico, ainda que à superfície não pareça. A solenidade do momento, evidenciada à luz dos media, tratará de ocultar a dimensão crítica do acontecimento. Eu estarei presente para o testemunhar.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Por um fio...confissões existenciais de um bloger

Por falta de tempo, a continuidade deste meu blog está por um fio. Escrever um ou dois posts por mês, à razão de uma dúzia de linhas cada, não me satisfaz. É preferível acabar de vez. Não tenho alma de moribundo resistente. Acrescento uma convicção íntima em jeito de epitáfio: "existir sem razão é como afirmar não." Mais do que uma impossibilidade ontológica, trata-se de uma quase impossibilidade lógica. Ao fim e ao cabo, a essência de um blog encontra-se na soma dos posts com o qual se alimenta. Por isso, nestes últimos três meses tenho ponderado cometer hara-kiri bloguista. Não me custaria muito. Um simples clic e tudo voltaria ao nada de onde brotou. Não deixaria filhos que me chorassem a desdita, nem amigos que me não esquecessem breve. A morte de qualquer autor de blog anónimo não perturba um bit sequer do universo informático. A única razão que me tem impedido até agora de simplesmente acabar (ou me apagar) com tudo isto é simples: sem os posts (poucos) que faço, as mãos que os escrevem e o cérebro que os concebe não se uniriam nesse acto único que os produz. E o meu mundo ficaria mais pobre. Ou talvez não.